Ideal bolivariano de integração latino-americana ainda não existe de fato, diz pesquisador

28/03/2010 - 12h46




Renata Giraldi
Repórter da Agência Brasil
 

Brasília – O ideal da integração continental surgiu no século 19 com Simón Bolívar, o líder dos movimentos de independência das ex-colônias espanholas. Para Bolívar, o mundo deveria ser constituído de nações livres e independentes unidas por leis comuns para regulação de relações externas. Chamado de “O Libertador”, Bolívar é exemplo constante dos discursos dos presidentes da Venezuela, Hugo Chávez, da Bolívia, Evo Morales, e do Equador, Rafael Correa.

O pesquisador Felippe Ramos, professor de Relações Internacionais do Departamento de Sociologia e coordenador da pesquisa realizada pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), disse à Agência Brasil que não encontra semelhanças entre os ideias bolivarianos e o trabalho realizado por sua equipe sobre a integração latino-americana. “Não é uma questão de ideologia, mas de fatos”, afirmou ele.

Depois de estudar cuidadosamente a região e viajar por nove países - Colômbia, Paraguai, Argentina, Bolívia, Venezuela, Uruguai, Chile, Peru, Equador, além do Brasil -, o professor concluiu que os conflitos fronteiriços gerados por antigas guerras ainda bloqueiam os avanços da integração regional.

“Simplesmente não há integração entre o Chile e a Bolívia. As relações diplomáticas existem, mas os resquícios ainda do período da Guerra do Pacífico são presentes no dia a dia dos dois países. Isso me impressionou muito”, afirmou Ramos.

O pesquisador se referiu à guerra, ocorrida de 1879 a 1883, quando o Chile venceu a batalha com o Peru e a Bolívia. Ao final, os chilenos conseguiram anexar terras que antes pertenciam aos dois outros países. Os bolivianos negociam até hoje uma saída para o mar – o país não tem mar – e esta é uma questão permanente nas negociações bilaterais com o Chile e multilaterais com outros países.

Ramos, no seu estudo, também evita comparações pois Bolívar desperta elogios e críticas. Para alguns, o herói em vários países era autoritário e não colocava em prática o que pregava. No entanto, seus admiradores rebatem mostrando suas realizações e atribuindo às dificuldades econômicas causadas por longos períodos de guerra como parte de suas limitações.