Para ex-deputado, Exército trabalhou com informações inconsistentes

19/03/2010 - 20h43

Luciana Lima
Repórter da Agência Brasil

Brasília - O ex-deputado Aldo Arantes (PCdoB) que fez parte do Grupo de Trabalho Tocantins (GTT) na busca de restos mortais de guerrilheiros no Araguaia avaliou que as informações que nortearam as escavações em outubro do ano passado eram inconsistentes. “Eram informações muito frágeis sobre a localização dos corpos. Tanto que não se achou nada”, disse.

Arantes acredita que os restos mortais dos guerrilheiros só serão encontrados quando houver uma decisão das Forças Armadas de ouvir os militares que participaram da chamada Operação Limpeza", na reta final da guerrilha. Muitos desses militares já estão na reserva.

“Ou se obtém informação de quem tem essas informações ou então o grupo de trabalho voltará ao Araguaia e não encontrará nada. Com informações genéricas, o resultado será pífio. É preciso ouvir os militares que participaram da destruição dos corpos na Serra da Andorinha. Estive pessoalmente com um militar da Aeronáutica, que era piloto de helicóptero, e ele disse que chegou a transportar cerca de 15 corpos para serem jogados no local. É preciso ouvir esse militar”, disse Arantes.

Arantes também relatou conversas que teve com moradores da região que foram usados pelo Exército na época e foram obrigados a cavar as valas. São os chamados “mateiros” que muitas vezes, de acordo com Arantes, também não têm informação precisa sobre o assunto.

“Eles contaram que o Exército chegava e fuzilava os guerrilheiros. Depois eles obrigavam os camponeses a cavar as sepulturas. Depois disso, mandavam os mateiros embora para não assistirem ao enterro. Muitos deles voltaram ao local e depois não encontravam corpos. Acreditam que o Exército enterrava os guerrilheiros em outros locais. O objetivo era confundir para dificultar  a localização posterior dos restos mortais”, disse

Nesta semana, parentes de um militante que atuou na Guerrilha do Araguaia e uma equipe do Ministério Público Federal encontraram restos humanos na localidade de Brejo Grande do Araguaia, um dos locais do conflito no Pará. As ossadas foram encontradas a cerca de 30 metros do local que estava sendo escavado pela missão coordenada pela Defesa, em outubro do ano passado.

A região conhecida como Tabocão fica a 90 quilômetros de Marabá e sempre foi apontada como possível área onde teriam sido enterrados guerrilheiros mortos durante os combates na década de 70. Em depoimentos no MPF, moradores do município de Brejo Grande informaram que as escavações da Operação Tocantins foram feitas em pontos incorretos.ombatida pelo Exército, a Guerrilha do Araguaia foi um movimento de resistência ao regime militar (1964-1985) organizado pelo PCdoB na primeira metade da década de 70.

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