Haiti, uma história de desmandos e pobreza

03/02/2010 - 18h38

Rivadavia Severo
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A calamidade social e a degradação humana expostas pelo terremotoque devastou o Haiti três semanas atrás têm raízes profundas queremontam à época anterior a independência do país, em 1804. OHaiti nasceu de uma revolta de escravos contra o colonialismofrancês, liderado pelo exército de Napoleão Bonaparte. Foi aprimeira nação negra do mundo a criar uma república, erguida emparte de metade ocidental da Ilha Hispaniola, no Caribe.

As guerras pela independência acabaram destruindo os grandescanaviais, substituídos pelo sistema de corvée,que previa a expansão das atividades da cultura de cana-de-açúcarem pequenas propriedades rurais. Como elas não acompanharam odesenvolvimento da tecnologia açucareira do final do século XIX, oHaiti empobreceu – situação que só se agravou ao longo do anos.

Primeiro país a abolir a escravidão nas Américas e a impor umaderrota singular às tropas de Bonaparte, o Haiti foi isolado peloseuropeus e norte-americanos para não dar exemplo às demais colôniasdas Américas. A revolta dos escravos submetidos ao trabalhoexaustivo e a castigos nos canaviais trouxe a libertação ao país,mas o condenou a ficar à margem do processo de desenvolvimentoeconômico.

Desde então, o Haiti nunca mais se recuperou, passando por períodosde ocupações, golpes de Estado e ditaduras. Os Estados Unidos, porexemplo, invadiram o país em 1915 e o governaram até 1934. Aretirada só ocorreu depois que os norte-americanos cobraramas dívidas do City Bank e tornaram sem efeito o artigo constitucionalque proibia vender plantações aos estrangeiros

Essa trajetória atribulada contaminou as comemorações dobicentenário da independência, em 2004, quando uma onda deprotestos levou à destituição do presidente Jean-BertrandAristide. No rastro do avanço dos rebeldes, liderados por GuyPhilippe, os enfrentamentos com os Chimeres, o exército leala Aristide, deixou um saldo de centenas de mortos e feridos.

Aristidehavia chegado ao Palácio Nacional pela segunda vez nas eleições denovembro 2000, marcadas pelo boicote da oposição que denuncioufraudes nas eleições legislativas de maio daquele ano. ComAristide, o país seguiu o seu caminho de pobreza, atraso ecorrupção. Com a tomada do poder pelas milícias, o pouco de ordempública que existia acabou.

Asociedade haitiana está dividida por um sistema parecido com o decastas, entre uma maioria negra, cerca de 90%, e uma minoria (emtorno de 10%) de mulatos e brancos. A língua, os costumes e areligião são diferentes. Os mulatos e brancos continuaram ligados àcultura francesa. Já os negros praticam o vodu e o catolicismo efalam o créole.

Apobreza assola o país. Apenas 0,5% dos rios são perenes, fruto dodesmatamento para produção de carvão vegetal; 47% da população éanalfabeta, grande parte das pessoas só come a cada dois dias; 80%vivem com rendimentos abaixo da linha da pobreza e 60% não têmtrabalho.