Salário mínimo de R$ 510 tem grande influência nas contas públicas, diz economista da FGV

01/01/2010 - 16h57

Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - O novo saláriomínimo, de R$ 510, que começou a vigorar hoje (1º), tem implicações no mercado de trabalho e, maisainda, nas contas públicas. “Talvez seja opreço mais importante em termos sociais no Brasil, mais do quea taxa de câmbio e a taxa de juros”, disse o economistaMarcelo Néri, chefe do Centro de Políticas Sociais(CPS) do Instituto Brasileiro de Economia da FundaçãoGetulio Vargas (Ibre/FGV), em entrevista à AgênciaBrasil.Nos últimos 14 anos, o aumento do saláriomínimo atingiu 120%. “É uma taxa bastante grande deaumento e ele impacta no seguro desemprego, nas aposentadorias. Eudiria que o aspecto das transferências públicas émais importante até no Brasil do que o impacto sobre o mercadode trabalho”, afirmou. Para Néri, no entanto, os programas detransferência de renda, como o Bolsa Família, têmmais efeito no combate à pobreza do que o saláriomínimo. De acordo com o economista da FGV, o salário mínimo atua principalmente na melhoria da renda da classe D,enquanto a classe E é a grande beneficiária do BolsaFamília.Já as classesA e B, segundo ele, são favorecidas pelos benefícios da Previdênciaacima do salário mínimo. O chefe do CPS/FGV revelouque, atualmente, 24% da população vivem numa faixa derenda familiar de R$ 800 a R$ 1,1 mil. “Essas pessoas sãomuito impactadas pelo salário mínimo”, disse.Marcelo Néri acha que o reajuste do mínimo tem efeito direto no mercado de trabalho,podendo causar desemprego e informalidade, ao mesmo tempo em que geraaumento de renda para o trabalhador, e que,. em relação àscontas públicas, ele produz transferências para apopulação da classe D, mas tem um custo fiscal considerável.“Esses são os dilemas envolvidos”.Nériinformou que o Brasil conta, hoje, com um salário mínimopróximo do seu valor inicial, quando foi promulgado pelopresidente Getulio Vargas, no começo dos anos 1940. Oeconomista afirmou que, pessoalmente, é mais entusiasta doBolsa Família como instrumento para combate à pobrezado que o reajuste do salário mínimo. “Eu achoque ele [Bolsa Família] tem mais custo/efetividade.Cada real que você gasta com a expansão do Bolsa Famíliachega mais na mão do pobre. Mas, o salário mínimoé a grande figura no inconsciente coletivo brasileiro como apolítica de combate à pobreza, e tem forte apelopopular”, afirmou Marcelo Néri.