Imprensa se divide entre a defesa da cultura, o islamismo e a liberdade de expressão

31/10/2009 - 15h45

Ivanir José Bortot
Enviado Especial*
Teerã (Irã) - Preocupado com a defesa dos valores culturais e os princípios do islamismo, o Ministério da Cultura e Orientação Islâmica do Irã promoveu um encontro com  mais de 1,5 mil veículos de comunicação do país e de outras nacionalidades. O evento também foi uma espécie de feira aberta ao público, visitado por milhares de estudantes,  profissionais liberais e populares de Teerã, no período de 19 a 27 de novembro. A mensagem  clara do ministro da Cultura e Orientação Islâmica,  Mohammad Hosseini,  é de que  o bom jornalismo não pode informar apenas a versão de uma das partes envolvidas nos fatos, mas deve apresentar uma notícia isenta para o cidadão - 45% da população do país têm ensino superior e o índice de analfabetismo é de 3%. Hosseini aproveitou para anunciar que seu ministério vai divulgar uma relação dos veículos de comunicação do Irã que vão receber o repasse de subsídios oficiais.  A Agência Brasil teve acesso a diversos veículos de comunicação iranianos, desde os engajados em causas religiosas, políticas e da  sociedade civil até as grandes casas editoriais públicas e privadas, como a Fars News Agency e a Qods News Agency, entre outras.      O jornal Etela´at, o mais antiga do Irã e do Oriente Médio, fundada em 1926, com circulação de 300 mil exemplares, é privado. Publicado em oito colunas, possui edição em farsi e árabe pela manhã e, à tarde, uma terceira em inglês, que circula na Europa, principalmente em Londres e Paris, e nos Estados Unidos. Embora trabalhe com modernos sistemas de computação, muitos jornalistas mais antigos escrevem suas matérias no papel. O texto é passado ao computador por um digitador.As três principais diretrizes do jornal são o “compromisso com os princípios e ideais revolucionários, o compromisso com a liberdade de pensamento e o compromisso com o respeito à cidadania”. Ao ser questionado por jornalistas estrangeiros sobre a existência de uma espécie de “linha vermelha” entre assuntos  proibidos envolvendo conservadores (governo) e os reformistas (oposição)  no Irã,  o editor de economia do jornal, A.Habibi Mehr,  disse que é difícil observar os limites e que “às vezes pende para um lado e às vezes para outro”. Em seguida,  minimizou, dizendo que governos de todos os lugares, às vezes, não gostam de determinadas notícias publicadas. Ressaltou, no entanto, que espera que as coisas melhorem em seu país.   O Ettela´at, considerado um veículo de jornalismo moderno do país, deixou de ser  publicado, nos seus 85 anos de existência, entre novembro de 1978 e janeiro de 1979, quando ocorreu a Revolução Islâmica. Ele é distribuído nacionalmente e entregue via correios. A editora que publica o jornal tem 1,3 mil funcionários, a maioria jornalistas. O parque gráfico, as  redações, o  museu histórico, a biblioteca e a área administrativa ocupam 17 mil metros quadrados. O jornal é detentor de um arquivo com mais  de 50 anos, com notícias e mais 60 mil fotos. As  mais antigas chegam  a ter mais de 100 anos. Tem 13 mil biografias de personalidades iranianas.  A Irna, fundada em 1934, foi a primeira mídia oficial do Irã. Com cobertura política, social, cultural, esportiva e econômica, é acessada diariamente pela internet por 1,5 milhão de pessoas em inglês, árabe e fersi, língua oficial do Irã. São disponibilizadas 24 horas por dia cerca de 2,4 mil notícias  produzidas por uma equipe de 1,4 mil profissionais com um orçamento de US$ 200 milhões.A Irna possui cobertura  na América, na África, no Oriente Médio, na Ásia e Arábia, com correspondentes e 30 escritórios internacionais. Ela opera com 17 estações de rádio e diversas estações de satélites para divulgação de seu conteúdo. A Irna foi uma das primeiras agências a usar a internet no Irã - o trabalho começou em dezembro de 1996. A agência oficial do governo iraniano conta com um arquivo com 3 milhões de fotos, com 40 anos de existência.