Brasileiro ainda lê pouco, constata estudo da Câmara do Livro

08/09/2009 - 20h32

Luiz Augusto Gollo
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Uma análise mais detalhada da Pesquisa de Orçamentos Familiares 2002-2003, doInstituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostrou aosmembros da Câmara Brasileira do Livro (CBL), reunidos hoje (8) durante a 19ªConvenção Nacional, no Rio de Janeiro,que 40,7% das famílias adquirem algum tipo de material de leitura. É umpercentual baixo, sobretudo se revistas e jornais estão incluídos nadespesa, e mais grave ainda se for considerado outro dado revelador: gasta-sepraticamente a mesma quantia em cópias e em originais de livrostécnicos e didáticos.“O preço do livro no Brasil não justificamais o baixo índice de consumo”, afirma Rosely Boschini, presidente daCâmara. “As editoras estão buscando muitas maneiras de oferecer umproduto com a mesma qualidade e mais acessível. Seria interessante oEstado transmitir aos educadores a necessidade de despertar nos alunoso gosto pela leitura”.O estudo divulgado na convenção foi feitoa pedido de oito entidades atuantes no mercado editorial, quase todaspresentes à entrevista que se seguiu ao lançamento, a cargo do seucoordenador, Kaizô Iwakami Beltrão, pesquisador do IBGE e consultor. Deinício, ele destacou que os dados são os mais recentes disponíveis eque nova pesquisa, em andamento agora, poderá refletir uma novarealidade. “É uma coleta de informações em 50 mil domicílios e,a princípio, mostra que maior renda e maior escolaridade estão tambémligadas a maior índice de leitura. Mas isso não quer dizer que quemganha mais ou estudou mais lê mais livros, o consumo quase sempre serefere a livros didáticos, revistas e jornais, e não a literatura”.Narealidade, os índices mais altos de aquisição de material de leitura serelacionam a lares com estudantes, onde têm relativo destaque despesascom revistas, jornais, livros didáticos, fotocópias, livros técnicos elivros não didáticos. Mas o total não passou de 0,6% da renda familiarno ano, enquanto somaram quase 2% no período os gastos com TV, vídeo,som e microcomputador.“É preciso difundir nas crianças não ohábito da leitura, mas sim o gosto pela leitura”, defende JoãoCarneiro, presidente da Câmara Riograndense do Livro, que põe por terraoutro mito: o de que a professora é quem desperta a criança para aleitura. “Está comprovado, por diversos estudos, que é a mãe quemprimeiro incentiva a leitura. É a cultura de ler, contar histórias parao filho, antes mesmo de ele ser alfabetizado. Isto é marcante no gostofuturo pela leitura”.O cruzamento de inúmeros indicadores dapesquisa do IBGE, na elaboração do estudo encomendado pela CâmaraBrasileira do Livro, permite conclusões aparentemente óbvias, que,entretanto, traduzem realidades surpreendentes. É o caso, por exemplo,da comparação de gastos anuais da família média em 2002/2003 com váriositens contabilizados: material de leitura, R$ 110,00;tv/vídeo/som/micro, R$ 400,00; telefonia celular, R$ 180,00; e lazerfora de casa, R$ 125. “Na época, é importante lembrar, o salário mínimoera R$ 200,00”, ressalta Kaizô Iwakami Beltrão.Rosely Boschiniaplaude ideias como o Vale Cultura, mas enfatiza a necessidade demuitas parcerias entre Estado, iniciativa privada e família como amaneira mais rápida e eficaz de recuperar o terreno perdido pelomercado do livro. E exemplifica: “O Rio de Janeiro tem,talvez, três mil bancas de jornais, o mesmo número de livrarias queexistem no país. É preciso resgatar o papel da livraria, o ambiente dolivro. Sabe que as pessoas só frequentam bibliotecas enquanto sãoestudantes? Depois não vão mais”, lamenta.João Carneiro adiantaa questão: “A leitura não é apresentada como uma coisa prazerosa, é umaobrigação escolar. Isso tem de mudar, para alcançarmos um nível como oda França, onde a literatura é agregador cultural do país, osescritores franceses são a própria França no mundo”.A pesquisacoordenada por Kaizô Iwakami Beltrão para a Câmara Brasileira do Livrofoi encomendada pelas seguintes entidades: Associação Brasileira deDifusão do Livro (ABDL), Associação Brasileira de DireitosReprográficos (ABDR), Associação Estadual de Livrarias do Rio de Janeiro (AEL-RJ),Associação Nacional de Livrarias (ANL),  Câmara Riograndense do Livro(CRL), Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL) e InstitutoPró-Livro (IPL). Foi consultora do trabalho a médica Milena Piraccini,livreira da Livraria Leonardo da Vinci, diretora da ANL e da AEL-RJ.