Tancredo só aceitou operação após garantia da posse de Sarney

21/04/2009 - 17h29

Marcos Chagas e Iolando Lourenço
Repórteres da Agência Brasil
Brasília - Cientede que estava tomado por uma infecção de grande proporção dias antes detomar posse na Presidência da República, Tancredo Neves resistiu até oúltimo momento a submeter-se a uma cirurgia pelaequipe do Hospital de Base. O primo Francisco Dornelles (PP-RJ), indicado à época para assumir o Ministério da Fazenda, recorda que o grande receio de TancredoNeves era que o então presidente João Baptista Figueiredo se recusasse a dar posse ao vice-presidente José Sarney.Já internado no Hospitalde Base, com toda a equipe cirúrgica de prontidão, Tancredo disse aFrancisco Dornelles que não se submeteria à operação caso não tivesse agarantia de que Figueiredo empossaria Sarney.Francisco Dornellesrecorda que não lhe restou alternativa a não ser garantir ao primo queo general-presidente empossaria Sarney. As articulações para a posse deSarney, de acordo com informações compiladas pela FundaçãoGetulio Vargas (FGV), já estavam, naquele momento, sob a condução do entãopresidente da Câmara Ulysses Guimarães (PMDB-SP) e do ex-ministro-chefeda Casa Civil Leitão de Abreu.“Eu posso garantir aosenhor que o Figueiredo dá posse ao Sarney”, respondeu Dornelles aopresidente. Só com essa garantia Tancredo Neves aceitou submeter-se à primeira desete cirurgias para tentar amenizar o quadro de fortes dores abdominais.  Tancredo Neves morreu há 24 anos, no dia 21 de abril de1985, de infecção generalizada.Osenador Francisco Dornelles relembra a grande comoção nacional com a morte de um dos principaisarticuladores políticos do processo de transição do poder militar parao poder civil, anunciada pelo porta-voz Antônio Brito. “Foi umadas maiores tragédias da vida pública brasileira. Tancredo fez todo omovimento de conciliação, de entendimento e de concórdia, chegou àPresidência da República totalmente maduro para governar o Brasil e umdia antes é atacado por um problema de saúde que praticamente o afastada Presidência. Nunca a sociedade brasileira teve uma frustração tãogrande como teve em abril de 1985.”