Obama não deixará de proteger Israel, diz especialista

07/01/2009 - 20h24

Luciana Lima
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O professor JoséFlávio Sombra Saraiva, titular de relações internacionais da Universidade de Brasília (UnB), disse hoje (7) que nãoacredita em uma mudança de comportamento dos Estados Unidos emrelação a Israel após a posse dopresidente eleito Barack Obama, que ocorrerá no próximodia 20. “Enquanto os EstadosUnidos puderem conceder carta-branca a Israel, manterão essapolítica. Há uma espécie de substrato na questãoIsrael-Palestina, que é a forte presença dosjudeus-americanos na política externa israelense. Isso nãomudou no governo Bush, e não mudará muito no governoObama, porque isso é uma força econômica epolítica muito importante, e que é uma dimensãofundamental da política externa americana”, destacou o professor. “Daí mesmotermos observado a grande resistência do presidente Obama emdeclarar alguma coisa. Ele declarou quando não tinha mais saída”,considerou.“Há uma longahistória, de 60 anos, que emerge do fato de que a criaçãodo Estado de Israel não foi acompanhada pela criaçãodo Estado palestino. Essas eram as duas nações que láexistiam e continuam a co-existir. Essa foi a deformaçãojurídica do sistema internacional no pós Segunda Guerra Mundial – que resolveu o problema da diáspora judaica, masnão resolveu o problema da diáspora palestina. Entãohá esse ir e vir, de uma história de escalada deviolência que aumenta e diminui ao longo de seis décadas,com conflitos que vão se sucedendo uns aos outros”, lembrou o professor Saraiva.O professor aindacomentou que, dificilmente, o Brasil assumirá uma presençaimportante para a discussão de um processo de paz para aregião. “O Brasil tem uma presença internacional quevem crescendo, muito importante. Está na frente dos paísesemergentes, tem já seu front diplomático aqui naAmérica do Sul, o que já é suficientementecomplexo e, evidentemente, junta-se às visões e àsforças racionais convocando a paz e sugerindo umencaminhamento satisfatório para a matéria. Mas oBrasil não é um ator predominante no Oriente Médio,que é uma área das grandes potências, éuma área das ex-metrópoles, e uma área de forteinflexão desde a Guerra Fria, especialmente nas questõesIrã-Rússia-China e Estados Unidos, é uma áreacom modesta contribuição nossa”, explicou.O endurecimento no usoda força por parte de Israel, na opinião do professorSaraiva, é o que há de novo em um conflito que jápassa dos 60 anos entre judeus e palestinos. Para ele, Israel nãoquer repetir o que ocorreu com o Hezbollah, no Líbano, quesaiu fortalecido internamente após o conflito, ocorrido háum ano e meio. “Israel recolheu umalição da recente escalada de violência do nortedo país, que foi o conflito no Líbano, no ano passado.A vitória militar não significou a vitóriapolítica. O Hezbollah, no Líbano, está maisforte do que antes do conflito”, analisou. “Agora há umadeterminação, sobretudo em setores mais da direitaisraelense, de aniquilar de fato os setores mais radicais dospalestinos, que é, evidentemente, o Hamas”, destacou.O recrudescimento dasações militares israelense e a ascensão deforças mais conservadoras no Estado de Israel, na opiniãode Saraiva, tornam ainda mais distante uma situação depaz mais duradoura para a região. Para ele, a ofensiva sobrea Faixa de Gaza é apenas mais um capítulo de uma “guerra semfim”. “O que pode ocorrer éuma espécie de paz precária, que substitui essas fasesde conflito. Não vejo uma saída duradoura. Nãovejo uma paz segura, senão acomodações políticasaté o segundo capítulo. Vejo que o momento agora éde baixar a escalada de violência e reduzir as mortes. Nãovejo nenhuma força política entre as partes e nem defora da região capaz de construir o diálogo suficientepara o entendimento”, considerou.“Há aspectosque são de continuidade, de um velho conflito, uma espéciede dejà vu, que vai e volta, e aspectos novos,inéditos, como quase sempre nesses casos. São primos,todos eles, e parece que há um conceito político de quea paz é essa, a paz é o ir e vir do conflito, éuma forma de conviver, e há também a soluçãode que a liberdade de um grupo é a exclusão daliberdade do outro, portanto uma enorme dificuldade de culturapolítica, de co-habitação e de existência”,comentou.Saraiva lembrou oincentivo à formação do Hamas dado pelos EstadosUnidos, com o objetivo de se ter uma força no Oriente Médio, capazde fazer frente ao grupo Al-Fatah, uma força mais orgânica,liderada pelo falecido Yasser Arafat, que chegou a ser presidente da AutoridadePalestina. “O Al Fatah tinha uma capacidade política maiorde mover a sociedade internacional. Contra o Hamas reside o fato deque abrigaria terroristas suicidas e uma linha mais radical”,explicou o professor Saraiva.