Diretor da Abin culpa Polícia Federal por descontroles na Operação Satiagraha

11/09/2008 - 0h06

Iolando Lourenço
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O diretor de Contra-Inteligência afastado da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) Paulo Maurício Fortunato disse hoje (10) que o delegado da Polícia Federal Protógenes Queiroz deve ser responsabilizado por eventuais descontroles da Operação Satiagraha. "Que existiu descontrole dentro do Departamento da Polícia Federal, existiu", afirmou, ao depor na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Escutas Telefônicas Clandestinas da Câmara dos Deputados.Fortunato criticou a participação do ex-agente do Serviço Nacional de Inteligência (SNI) Francisco Ambrósio na operação. Segundo o diretor afastado da Abin, o ex-agente dividia sala com o delegado Protógenes, que o teria contratado para trabalhar na Satiagraha.De acordo com Fortunato, os agentes da Abin não podem ser responsabilizados pelos grampos telefônicos, que levaram a agência a se envolver numa confusão. "É uma confusão que não é nossa. A Abin entrou com o apoio institucional. Seus servidores estão achincalhados como grampeadores. Se foram feitas interceptações ilegais, o inquérito da PF vai esclarecer essa situação. Estamos pagando um pato que não é nosso", desabafou.Na avaliação do presidente da CPI, deputado Marcelo Itagiba (PMDB-RJ), o depoimento de Fortunato foi "bastante confuso", porque não existe operação da Abin que não seja estruturada e coordenada. "Dizer que não houve coordenação e estruturação é desrespeitar a inteligência alheia. Ao final ficou demonstrado que houve integração formal por parte dos órgãos públicos para a busca de determinado indivíduo e que por complicações do processo saiu fora do controle, levando a interceptação de telefone de ministro da Suprema Corte".Segundo Itagiba, Fortunato se corrigiu ao longo do depoimento. “Primeiro fazia dez ou 15 anos que não se encontrava com com Ambrósio e depois se lembrou que se encontrou com ele na sexta-feira da semana passada". Para o deputado, está existindo briga na superestrutura dos órgãos que está expondo as "entranhas do processo".O presidente da CPI não descarta a possibilidade do ex-agente Ambrósio ser responsabilizado nesse processo, mas lembra que "possivelmente outras pessoas vão aparecer nesse contexto "e possivelmente com bastante culpa no processo". Ele afirmou, ainda, que "está claro que Ambrósio foi contratado de forma incorreta para participar de operação sigilosa que deveria ser feita apenas por servidores da Polícia federal".Para Itagiba, a Operação Satiagraha causou sérios prejuízos a imagem da Abin e da Polícia Federal. "Se todas essas questões que estão sendo levantadas forem verdadeiras, demonstra que os duas organizações [Abin e PF] estão completamente fora de controle". Para o deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR), o depoimento de Fortunado foi marcado pela contradição. "O depoimento de Fortunato contradiz o que foi dito pelo general [Jorge] Félix e demonstra ou que estão acobertando ou tentando passar a idéia de descontrole, o que só beneficia as autoridades"."Nesse momento, eu acho que o delegado Protógenes e o ex-agente Ambrósio são os eleitos para serem culpados. Agora há tendência de usar o Ambrósio como culpado por tudo e aproveitar eventuais erros de procedimentos adotados pelo delegado Protógenes para desqualificar todo o trabalho dele", disse Fruet.Fruet informou que na parte secreta do depoimento, Fortunato falou da linha de investigação que estão fazendo para detectar quem fez a escuta no telefone do ministro Gilmar Mendes, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF).