Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Cerca três mil pessoas da capital e do interior do estado do Rio de Janeiro participam hoje (24) do 3º Walking Rio, que acontece na orla carioca, totalizando um percurso de dez quilômetros. O evento integra o calendário internacional de caminhadas da natureza, promovido pela organização não-governamental Anda Brasil. Porém, mais do que estimular o turismo ecológico, rural e de aventura, o evento se caracteriza por incentivar a solidariedade junto à população. A renda obtida com a venda de kits, no valor de R$ 12 cada um, contendo camiseta, pulseira, caneta e tíquete com direito a um sanduíche, foi revertida para a Casa Ronald, de apoio a crianças com câncer. Mais de cinco mil kits foram vendidos, segundo a vice-presidente da Anda Brasil, Ana Beatriz Cordeiro. Representante no Brasil da Federação Internacional de Esportes Populares (da sigla em alemão IVV), a ONG está presente em 18 estados brasileiros, somando até o ano passado 186 circuitos turísticos de caminhadas. Para 2009, o calendário anual que será remetido à IVV já engloba mais de 210 circuitos no país. “A caminhada é considerada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) a atividade mais praticada no mundo. E na área do turismo tem crescido sensivelmente”, explica Ana Beatriz. O IVV tem mais de 40 países participantes. Cerca de 20 milhões de pessoas em todo o mundo estão envolvidas na prática de caminhadas não competitivas. No Brasil, a média de crescimento de participantes de caminhadas, principalmente no meio rural, é de 20% a 30% ao ano.O potencial de crescimento desse tipo de turismo é grande no Brasil. “As pessoas já têm o hábito de caminhar, mas não de forma organizada”, diz a vice-presidente da Anda Brasil. Em parceria com a Secretaria de Agricultura do estado do Rio, a ONG estimula os agricultores familiares a agregarem valor à sua atividade, de modo a melhorar o seu rendimento. Segundo Ana Beatriz, “a gente acredita que ao levar pessoas para caminhar em um ambiente mais natural, ou rural, elas vão poder conhecer novos lugares, melhorar a sua saúde. E também ajudam os pequenos produtores a melhorarem a sua qualidade de vida. É uma troca. E, ao mesmo tempo, uma atividade de inclusão”. Por essa razão, a Anda Brasil conta com a parceria do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA).A Casa Ronald foi criada em 1994 no Rio de Janeiro por iniciativa de um grupo de amigos, em homenagem a uma criança que morreu de câncer. Essa foi a primeira unidade da entidade na América Latina. Hoje, já são três casas de apoio a crianças e adolescentes no Brasil. As duas mais recentes foram inauguradas no ano passado em São Paulo e Santo André. A meta, porém, é abrir em todo o país mais dez unidades, até 2012. As informações são do gerente-geral da casa Ronald, Sérgio Carvalho. Na América Latina, a rede conta atualmente com 12 casas de apoio e, no mundo, elas já somam 280 unidades.A Casa Ronald do Rio de Janeiro desenvolve o projeto Casa Longe de Casa, para hospedagem de crianças e jovens com câncer em tratamento na cidade, mais um acompanhante. O projeto é realizado em convênio com cinco hospitais: o Instituto Nacional de Câncer (INCA); Instituto Estadual de Hematologia (Hemorio); Hospital Universitário Pedro Ernesto, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ); Hospital da Lagoa; e Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).Desde sua criação, a Casa Ronald já atendeu a 1.200 crianças e adolescentes, a maioria do estado do Rio de Janeiro. Sérgio Carvalho informa, entretanto, que a Casa abriga também pacientes de outros estados e países da América do Sul. Por ano, são registradas 20 mil hospedagens, sempre englobando a criança e um acompanhante do sexo feminino. “Nós levamos essas crianças até o tratamento ambulatorial nos cinco hospitais onde temos convênio”, relata o gerente da organização, destacando que “isso não tem nenhum custo para essas pessoas”. As crianças gozam ainda de serviços complementares oferecidos pela casa de apoio. Por meio de convênio com a prefeitura, elas recebem aulas e não perdem o ano letivo. Além disso, contam com o auxílio de psicólogos e arte-terapia, entre outras atividades. Já os jovens participam de um projeto de direcionamento para uma carreira. As mães, por sua vez, freqüentam cursos profissionalizantes (cabeleireiro, manicure, depilação, maquiagem).
Atualmente, a Casa Ronald conta com 460 voluntários para cuidar das atividades diárias. A seleção dos pacientes com câncer para o projeto “Casa Longe de Casa” é feita pelos hospitais conveniados, com base em critérios que incluem a distância do local de residência, o tipo de tratamento e sua periodicidade, conforme o gerente: “Quem faz a seleção é o serviço social de cada hospital. A gente recebe um encaminhamento desses hospitais”. A entidade é mantida por doações de várias empresas nacionais e estrangeiras.