Lula pede ajuda para criar programa de microcrédito voltado à extrema pobreza

12/06/2008 - 21h51

Mylena Fiori
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O bengalêsMuhammad Yunus, Prêmio Nobel da Paz e criador do primeiro bancode microcrédito do mundo, pediu ao presidente Luiz InácioLula da Silva que vá à reunião de Cúpulado G8, marcada para o começo de julho, no Japão. "Luladisse que vinha hesitando se iria ou não. Expliquei que a vozdele é muito importante. Não é apenas a voz doBrasil, é a voz de muitos países no mundo inteiro",relatou Yunus ao final da reunião, que durou de cerca de umahora e meia, no Palácio do Planalto. No encontro, o presidente pediu a Yunus ajuda para desenvolver no Brasil um programa de microcrédito voltado à população que vive na extrema pobreza.Pela quarta vezconsecutiva, Brasil, Índia, China, África do Sul eMéxico foram convidados a participar do encontro anual quereúne os sete países mais industrializados do mundomais a Rússia. Os cinco, no entanto, não têm vozativa e reivindicam a efetiva integração ao G8. Cansadode ser figurante, Lula chegou a cogitar não participar dacúpula deste ano, mas há dez dias anunciou que decidiuir. "O presidente Lula é uma pessoa muito admirada pelomundo, sua voz reflete a voz do Terceiro Mundo, éuma voz de confiança que dá esperança a todosnós", disse Yunus.Segundo ele, seu encontro comLula seria apenas uma visita de cortesia e acabou se transformando emuma produtiva reunião de trabalho. O presidente falou sobre aexperiência brasileira de concessão de microcréditoe pediu ajuda para implementação, no Brasil, deprogramas como os do Grameen Bank, voltados ao financiamento deatividades produtivas para pessoas em situação deextrema pobreza.A idéia, segundo Yunus, é que ogoverno federal defina uma região do Brasil para a adoçãode um programa modelo por uma equipe do Grameen Bank. "Elepoderia escolher a região mais difícil, onde nadachega, onde nada dá certo. Ficaríamos felizes decomeçar num lugar desses para mostrar que funciona aténas áreas mais difíceis", explicou.A exemplo deexperiências semelhantes em outros países, o Brasilentraria com US$ 6 milhões para a concessão definanciamentos de US$ 200, em média. O programa teria duraçãode quatro anos e, simultaneamente à implementação,os bengaleses treinariam técnicos brasileiros para reproduzir a experiência em outras regiões do país.Em nome de seu país,Yunus pediu apoio do governo brasileiro para a criação,em Bangladesh, de um sistema nacional de saúde públicanos moldes do SUS. Na mesmo instante, Lula ligou para o ministro daSaúde, José Gomes Temporão, que estava em BuenosAires, e não pôde participar da reunião. "Vamoster uma série de reuniões com o ministério paraver como podemos nos beneficiar com a experiência do SistemaÚnico de Saúde", contou Yunus.Bangladesh tambémpretende contar com apoio brasileiro no desenvolvimento do setoragrícola. Chamado pelo presidente Lula, o ministro doDesenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel, participou dareunião de hoje (12) e marcou para amanhã (13) de manhãnovo encontro com Yunus. Mais de 70% da população deBangladesh depende da agricultura ou de atividades relacionadas. "Ospreços crescentes dos alimentos e a crise global daagricultura serão a principal manchete dos próximosanos. O Brasil está bem adiantado nesta área, bem àfrente e queremos aprender com o Brasil", disse Yunus.