Vitor Abdala
Enviado especial
Haia (Holanda) - Mais de 17 mil brasileiros vivem hoje na Holanda, segundo dados da Embaixada Brasileira no país. Em dezembro do ano passado, pelo menos 2.600 estavam em situação ilegal no país, ma a maioria, cerca de 14.800, estava em situação legal. São homens e mulheres que trocaram o Brasil pelo país do noroeste europeu, alguns de forma temporária outros nem tanto, em busca de estudos, melhores oportunidades ou mesmo por motivos familiares.Um desses brasileiros é Júlio Pimentel, músico goiano, que migrou para os Países Baixos, em 2001, com um grupo musical, formado pela mulher e seus sete filhos. A oportunidade surgiu quando recebeu um convite para tocar em um festival holandês. Depois de inúmeros contatos feitos no país, decidiu ficar mais do que os três meses permitidos, sem visto.No início, a permanência foi apenas ilegal, mas depois, porque sua mulher tem nacionalidade alemã, Julio e os sete filhos conseguiram cidadania européia, já que hoje na Europa qualquer cidadão de um país-membro da União Européia pode ter o mesmo status em outro país-membro.“A principal dificuldade que enfrentei, por aqui, no início foi a legalização. Todo brasileiro, quando se muda para outro lugar, se não tem uma forma legal de documentação, tem dificuldade de difícil estabelecer contatos, de receber um cachê e montar um esquema mais profissional”, explica o músico, que hoje continua vivendo da música com toda a família. Júlio conta que, em Roterdã, cidade onde mora e uma das principais da Holanda, a comunidade brasileira é considerável. “A comunidade sempre se encontra em eventos culturais, como shows e festivais, e também em festas organizadas pelos próprios brasileiros”, conta Júlio, que, por enquanto, não pretende voltar para o Brasil.A carioca Rachel Mougey, migrou para a Holanda há 10 anos com o marido francês, depois de passar pelos Estados Unidos e pela França, onde teve seu primeiro filho, hoje com 10 anos. Na Holanda, teve seu segundo filho. Aliás, a criança, hoje com oito anos, nasceu de um parto no estilo holandês. “Isso para as pessoas no Brasil é um choque cultural. Eu lembro da minha mãe perguntando: ‘O quê? Parir em casa? Isso é coisa de índio’. Mas a maior parte das mulheres daqui têm filho em casa. Aí eu falei: ‘ah, eu também quero ter filho em casa naturalmente’”, conta a carioca, que hoje trabalha no escritório do Tribunal Penal Internacional, em Haia.Rachel mora em Haia, cidade onde não existe uma comunidade expressiva de brasileiros como em Roterdã. “A comunidade brasileira é meio dispersa. No lugar onde eu trabalho há cerca de 15 brasileiros e a gente se reúne de vez em quando, mas não tem uma comunidade muito forte. Pelo menos eu não conheço”.Segundo Rachel, apesar de não enfrentarem problemas em sua relação com os holandeses, os brasileiros têm certa dificuldade em se integrar a um círculo de amizade com os nativos. “Suas perguntas me abriram os olhos. Em dez anos de Holanda, só temos um casal de amigos holandeses. Os outros são todos estrangeiros como nós.”A médica homeopata gaúcha, Miriam Sommer, chegou à Holanda em 2000, em um programa de imigração. Depois de fazer mestrado, ela abriu um consultório médico em Haia, cidade onde mora com seus dois filhos. Desde então, sua família tem tentado se integrar ao esquema de vida holandês, como usar a bicicleta para se locomover dentro da cidade e não almoçar.“Nós, brasileiros, temos a cultura de cuidar do outro. Por exemplo, se você tem um problema, os vizinhos e parentes ajudam. Aqui é diferente. Aqui há uma cultura muito forte do materialismo e da competição. São culturas muito diferentes e você leva um tempo para perceber esses sinais”, afirma Miriam.