Greve de fome é “método autoritário”, diz Gilberto Carvalho

21/12/2007 - 23h21

Hugo Costa
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Encarregado das negociações para encerrar a greve de fome do bispo dom Luiz Flávio Cappio em protestopela transposição do rio São Francisco, o chefede gabinete da Presidência da República, GilbertoCarvalho, disse que manifestações críticasfazem parte da democracia, mas classificou o ato como “autoritário”.“Oprotesto é natural. Nós somos um governo democráticoe convivemos diariamente com os protestos. Agora o governo tem quecumprir o seu papel e nós discordamos profundamente do métodode dom Cappio, que no fundo é autoritário. Não éum método do diálogo. É um método de que de alguma forma eu faço uma chantagem sobre você. Sevocê não aceita minha opinião, eu morro e vocêé culpado”, afirmou em entrevista ao telejornal Repórter Brasil, da TV Brasil.Durante os 24 dias em que o bispo ficou sem comer,Gilberto Carvalho afirmou ter procurado o melhor desfecho para amanifestação, mas garantiu que o governo nãocogitou a possibilidade de interromper as obras.“Otempo todo, nós mantivemos uma abertura grande. Desde oprimeiro dia da greve de fome, o governo manteve intensa relaçãocom a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil [CNBB]. Dosoito pontos apresentados pelo grupo de dom Cappio, seis pontos muitoimportantes foram aceitos pelo governo com a construçãode obras complementares da transposição. A únicacoisa que de fato não pudemos transigir era a questãoda paralisação das obras”.Ochefe de gabinete de Lula disse que a greve de fome causou desconforto. “ACNBB, assim como o governo, se viu numa situação de muitoconstrangimento porque entendo que a maioria dos bispos do Brasil e amaioria da Igreja concorda com a discussão do projeto, masnão com o método que dom Cappio haviaadotado. Tanto a CNBB, por meio de seu presidente, quanto o Vaticanofizeram um apelo para que ele deixasse a greve de fome”.Atensão criada pelo protesto do bispo foi apontada por Carvalhocomo conseqüência da inflexibilidade do grupo que se opõeà transposição do São Francisco. Paraele, os opositores se negaram a dialogar porque depositavam confiançano Poder Judiciário para paralisar as obras.“Oque foi ficando muito claro para nós é que o grupo quecerca dom Cappio na verdade não estava apostando numanegociação com o governo. Estava apostando em umavitória sobre o governo no Supremo Tribunal Federal (STF). Porisso não levou tão a sério a nossa negociação”,afirmou.Naúltima quarta-feira, o STF cassou liminar que suspendia asobras da transposição. Debilitado pela greve de fome,domCappio desmaiou e foi hospitalizado após receber a notíciade que o projeto prosseguiria. Gilberto Carvalho lamentou o episódio. “Dissepor telefone a dom Cappio que nós precisamos dele vivo atépara coordenar o processo de oposição ao governo”.