Elaine Patricia Cruz
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - O crescimento da aviação civil estava previsto há anos, mas a infra-estrutura não acompanhou o desenvolvimento do setor. Essa é a opinião de representantes de sindicatos ligados à área, que apontaram a falta de investimento na infra-estrutura como uma das causas para a crise aérea, que levou passageiros a enfrentar atrasos e cancelamentos de vôos nos principais aeroportos do país.“Houve um descompasso entre a indústria do transporte, a demanda pelo transporte aéreo, e o crescimento da infra-estrutura aeronáutica e aeroportuária. Esse descompasso foi aumentando cada vez mais e chegou a um ponto em que tivemos um estouro da situação e os atrasos começaram a ficar constantes”, aponta o diretor técnico do Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias (Snea), Ronaldo Jenkins.Segundo ele, o Programa de Desenvolvimento do Sistema de Aviação Civil, elaborado em 1997 por entidades relacionadas à área, já “estabelecia uma série de obras e medidas que teriam que ser tomadas para poder fazer frente ao aumento de demanda”. “A indústria da aviação cresceu dentro do que estava nos estudos. O que não cresceu foi a infra-estrutura aeronáutica e aeroportuária. Então temos hoje esse gargalo”, analisa. De acordo com a presidente do Sindicato Nacional dos Aeronautas (SNA), Graziella Baggio, em 2003, uma reunião do Conselho de Aviação Civil (Conac) ressaltou o crescimento no setor, apontou falhas no investimento na infra-estrutura e aprovou uma lista de dezoito resoluções que deveriam ter sido implementadas.“Se tivesse sido implementado, obviamente teria dado tempo de fazer novos controladores, teria dado tempo para modernizar os equipamentos, teria dado tempo para se investir mais nas pistas e nos equipamentos de pistas. E essas prioridades continuam. Acredito que hoje o governo tem que estar sensibilizado e empenhado em colocar em prática as decisões que foram tomadas em 2003”, afirma.Ambos defendem que as medidas para melhorar o setor não são tomadas em curto prazo, mas acreditam que a mudança na diretoria da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) possa trazer melhorias e melhorar o diálogo na área. “Uma das questões principais é a agência [Anac] voltar a atuar, ou seja, fiscalizar; o governo fazer e criar definitivamente uma política para o transporte aéreo séria e sólida e, obviamente, dar prioridade para o setor para se ter os investimentos necessários para a modernização do sistema e para que se ultrapasse essa crise que está colocada”, avalia Graziella Baggio.“Nada nessa área é a curto prazo. Não se constrói uma pista em um ano, não muda um aeroporto em dois anos, não se coloca controladores experientes para trabalhar em dois ou três anos. O que está se planejando agora terá seus resultados nesse horizonte de dois a três anos. E até quatro, cinco ou dez anos dentro da nova filosofia do tráfego aéreo”, aponta Jenkins.