Presidente da Infraero diz que estatal não tem controle total de publicidade divulgada em aeroportos

05/09/2007 - 21h22

Alex Rodrigues
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O presidente da Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária (Infraero), Sergio Gaudenzi, admitiu hoje (5) que a estatal não tem total controle sobre a publicidade divulgada nos aeroportos brasileiros.“Sei quanto foi pago pelas empresas [que exploram os espaços publicitários], mas não se aquele é o valor que deveria ser pago. O que precisamos é saber se a informação corresponde à verdade”, disse, em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Apagão Aéreo na Câmara dos Deputados

Gaudenzi garantiu que vai usar o programa de computador Advantage 2, adquirido da empresa FS3 Comunicação e Sistema. “Vamos precisar colocar o software em funcionamento para de fato termos um controle que hoje até existe, mas é falho”, explicou o presidente da estatal responsável por administrar os principais aeroportos do país.

Ele adiantou, no entanto, que será preciso acionar a Justiça para receber o que falta do programa, já que a empresa de comunicação não existe mais. “Alguém deve ser responsável por ela [FS3]. Alguém vai ter de ser acionado para entregar o que falta. Se depois, a partir daí, quem comprou [o programa] por esse preço vai ser punido, já é outra história”.

A Infraero adquiriu o programa no final de 2003, por R$ 26 milhões, com o objetivo declarado de aumentar a receita obtida com a comercialização de espaços publicitários em 65 dos 67 aeroportos que administra. Do valor total, R$ 20 milhões foram pagos.

O Ministério Público Federal (MPF) suspendeu o pagamento dos R$ 6 milhões restantes, relativos à eficácia do produto. Para o Tribunal de Contas da União (TCU), o valor do programa de computador não ultrapassaria R$ 3 milhões.

Segundo a ex-assessora da presidência da estatal Márcia Gonçalves, os R$ 26 milhões incluíam, além do software e da licença de uso, uma série de serviços que deveriam ser realizados pela FS3. O sistema entrou em funcionamento pleno em maio de 2005 e o contrato foi suspenso em dezembro daquele ano.

Ontem (4), três servidores da Infraero afastados de seus cargos foram ouvidos na CPI do Senado. Questionados sobre os indícios de irregularidade na contratação da FS3, como a dispensa de licitação para compra do software, o ex-superintendente de Planejamento e Gestão e ex-diretor comercial da Infraero Fernando Brendaglia, Márcia Gonçalves e a servidora Mariângela Russo defenderam que o produto proporcionaria maior transparência às concessões de espaços publicitários nos aeroportos.

Segundo eles, não houve tempo hábil até a suspensão do contrato com a FS3, em 2005, para que ela atingisse os objetivos almejados.

Hoje, Gaudenzi classificou a compra do programa como “no mínimo esdrúxula”. Segundo ele, técnicos da Infraero teriam constatado que um programa semelhante ao Advantage 2 poderia ter sido produzido no Brasil por um preço muito menor.

“A empresa [FS3] foi contratada, houve acusações graves quanto ao preço e aos problemas na licitação [dispensada]. O pagamento foi alto e, ainda assim, nós ainda não temos o controle da publicidade. Depois do que já foi pago, não há como não usá-lo, pois aí seriam dois prejuízos”, afirmou, lembrando que os espaços publicitários trazem receitas para a estatal.