Economista diz que salário mínimo "nunca foi mecanismo de combate à pobreza"

04/08/2007 - 16h48

Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Embora respeite o acordo firmado entre o governo federal e as centrais sindicais para reajuste do salário mínimo, a proposta dos pesquisadores Fábio Giambiagi e Samuel Franco, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), de congelamento do valor real do salário mínimo na próxima década, com a concentração de recursos públicos em políticas com maior retorno social, carece de embasamento.

A análise é do economista Murilo Barella, mestre pela Universidade de Brasília e atual diretor do Instituto de Previdência e Saúde dos Servidores Municipais de Guarulhos (SP).

O acordo para reajuste do mínimo se estende até 2011. E na opinião de Barella, o salário mínimo “nunca foi um mecanismo de combate  à pobreza extrema”. Ele refutou a mudança de cultura recomendada pelos pesquisadores, em que o governo deveria sinalizar de maneira clara para a população que a melhoria  da situação de cada indivíduo dependerá do esforço de cada pessoa. “A gente tem muito claramente que, desde situações históricas até problemas sociais, não é questão de opção individual a pessoa estar numa situação de pobreza.  Isso, no meu entender, é um pressuposto muito frágil”, afirmou Barella.

Prova disso, acrescentou, é o fato de muitas pessoas qualificadas, com preparo inclusive em termos de educação formal, não conseguirem inserção no mercado de trabalho: “Estão se inserindo agora, com algumas políticas de enfoque mais de desenvolvimento econômico, de produção, e menos enfoque financeiro”. O salário mínimo, reiterou, "é um regulador – e aí o debate é outro, de referência de mercado de trabalho, que o estudo dos pesquisadores não aborda”.

Barella destacou que a visão que se tem de economia é a de ser uma lógica de gastos. “Se a gente reforça esse mercado consumidor, a gente só tem a ativar essa economia. E esse mercado, quer se queira ou não, está se expandindo”, disse.Sobre a desvinculação do valor do salário mínimo do piso do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) para reajuste de aposentadorias e pensões, também proposta no estudo dos pesquisadores do Ipea, o economista argumentou que não dá para reduzir o problema previdenciário ao pagamento de benefícios na monta de salários mínimos. “A gente tem outras questões muito mais sérias e mais pesadas, que têm a ver menos com o salário mínimo e muito mais com a estruturação da Previdência”, alertou. E sugeriu que o debate da Previdência não pode ser “fiscalista nem financista”.