Especial 2 - Especialistas notificaram órgãos públicos responsáveis pela fiscalização

13/04/2006 - 1h59

Paulo Machado
Enviado especial

Lucas do Rio Verde (MT) – Cerca de uma semana depois da pulverização de agrotóxicos por uma aeronave, sobre a cidade de Lucas do Rio Verde, dois especialistas chegaram ao município para avaliar o impacto do acidente ambiental. Wanderley Antonio Pignati, mestre em saúde coletiva da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), e o engenheiro agrônomo James Cabral da Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (Fase), constataram os danos causados pelo veneno e informaram aos orgãos responsáveis pela vigilância sanitária sobre o crime.

"Quando estivemos nos órgãos municipais e estaduais, expressarmos nossas preocupações. Na época, tanto a Secretaria de Agricultura e Meio Ambiente, como o Instituto de Defesa Agropecuária do Estado do Mato Grosso [responsável pela fiscalização no estado] disseram que estão investigando para achar os culpados por "aquele acidente de deriva de agrotóxico, que ocorre quase todos os anos sobre a cidade de Lucas do Rio Verde. Mas neste ano foi muito sentido pela população e plantas da cidade. Foi fora do normal", relataram.

A notificação incluia providências para conter o avanço da intoxicação que passa pela cadeia produtiva. Entre elas, as verduras e legumes remanescentes da pulverização não deveriam ser vendidas em feiras; os venenos, como o Paraquat, não devem ser pulverizados por avião; e que uma investigação constante deve ser feita na água para avaliar uma possível contaminação.

A equipe de reportagem da Radiobrás chegou a Lucas do Rio Verde um mês após o acidente descrito pelos dois especialistas da Universidade Federal do Mato Grosso. O resultado ainda podia ser visto por toda a cidade. As folhas novas das plantas, que nasceram nos últimos 30 dias, não apresentam furos, necroses e pedaços queimados como aquelas que foram banhadas pela neblina de agrotóxico. Isso exclui, segundo os especialistas, a possibilidade de serem fungos que atacaram a vegetação.

A investigação ainda não mostrou a dimensão desta pulverização na cidade. Os técnicos, contudo, questionam os efeitos cumulativos na população. "E nas pessoas? Onde estão as folhas perfuradas pelo veneno?", comparou o doutor Wanderley Antonio Pignati em entrevista concedida à Agência Brasil em Cuiabá, capital do Mato Grosso.