Para relator, depoimento de publicitário a CPI foi frustrante

07/07/2005 - 0h51

Luciana Vasconcelos e Marcos Chagas
Repórteres da Agência Brasil

Brasília - O depoimento do publicitário Marcos Valério à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito que investiga denúncias de corrupção nos Correios durou mais de 13 horas e foi considerado "frustrante" pelo relator da comissão, Osmar Serraglio (PMDB-PR). "Ele poderia ter falado mais, não tínhamos como contra-argumentar quando ele não completava as informações", afirmou o relator. Ele considerou equivocada a decisão de convocar Valério para depor sem que a comissão tivesse feito um estudo da quebra dos sigilos de suas empresas, bem como da auditoria que vem sendo feita pela Receita Federal.

O presidente da CPMI, senador Delcídio Amaral (PT-MS), disse que "é inevitável" a reconvocação do publicitário para depor. No seu entender, a comissão deve, agora, entrar num novo momento, que envolva o estudo profundo dos documentos que estão chegando como os dados do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), Receita Federal e os resultados que chegarão das quebras de sigilos bancários, fiscais e telefônicos já autorizados.

"Temos que ter absoluta tranqüilidade para rastrear as operações feitas e, com certeza, reconvocar o Marcos Valério", disse Amaral. Quanto à operação bancária em que Valério confirmou ter sido avalista do Partido dos Trabalhadores, um empréstimo de R$ 2,4 milhões junto ao Banco de Minas Gerais (BMG), de Belo Horizonte, o presidente da CPMI afirmou que, do ponto de vista legal, ela é como outra qualquer. "O problema é ético, um prestador de serviços do governo federal não poderia avalizar um empréstimo para um partido que integra a base do governo."

Valério foi apontado pelo deputado Roberto Jefferson como operador de um suposto pagamento de mesadas a parlamentares do PP e do PL, o chamado "mensalão". O publicitário disse desconhecer o assunto e informou que não há relação entre os saques de suas empresas com as votações no Congresso. Valério disse ainda que manteve contato com vários parlamentares de diferentes partidos para tratar de campanhas publicitárias.

A oposição questionou os contratos mantidos pelas empresas do publicitário com estatais como o Banco do Brasil e os Correios e a Câmara dos Deputados. O deputado Onyx Lorenzoni (PFL-RS) afirmou estranhar os aditamentos e prorrogações feitos nos contratos, sem licitação. No Banco do Brasil, por exemplo, o parlamentar disse que o contrato de R$ 142 milhões assinado em 23 de novembro de 2003 recebeu um aditamento de R$ 58 milhões, faltando um dia para encerramento do contrato e tendo sido prorrogado por mais um ano. O publicitário disse que aditamentos são normais de acontecer, depende, segundo ele, do interesse do órgão público.

No caso dos Correios, houve um aditamento no valor de R$ 18 milhões em um contrato de R$ 72 milhões, que foi dividido entre três empresas, sendo uma delas a SMP&B, informou Valério. Lorenzoni disse que na Câmara dos Deputados foi fechado um contrato no final de 2003 de R$ 9 milhões. O deputado disse que o contrato teve dois aditivos no final de 2004: um de R$ 1,98 milhão em 18 de novembro e outro de R$2,75 milhões em 30 de dezembro, quando o contrato foi prorrogado por três meses.