Lula diz que no sindicato dos metalúrgicos aprendeu ''a arte do possível''

19/04/2005 - 0h30

São Paulo, 18/4/2005 (Agência Brasil - ABr) - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva comemorou na noite desta segunda-feira, em São Bernardo do Campo, os 30 anos de sua posse como presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. A cerimônia, na sede do sindicato, reuniu cerca de 750 sindicalistas, ex-dirigentes e funcionários do sindicato.

Lula saudou antigos companheiros pelo nome, lembrou momentos marcantes de sua trajetória como líder sindical e declarou: "Aqui neste sindicato a gente aprendeu a arte da negociação, a arte do possível."

O presidente lembrou a perseguição sofrida pelos trabalhadores. "Naquele tempo era muito diferente fazer sindicalismo. O momento político era muito delicado. As palavras eram medidas, os boletins fiscalizados." As greves, disse, eram necessárias para que os patrões percebessem que os trabalhadores estavam "preparados". E acrescentou: "Me perguntam por que não se faz tanta greve quanto se fazia. Porque quando os trabalhadores estão organizados, não precisa fazer greve toda hora."

Segundo Lula, hoje os trabalhadores são muito mais preparados. "A meninada que está dentro da fábrica hoje tem muito mais escolaridade que nós. No meu tempo, quando a gente tinha um diploma do Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial), fazia um curso de ferramenteiro ou de torneiro, já era o máximo da nossa vida. Hoje, os nossos netos e nossos filhos estão nas fábricas fazendo Direito, Filosofia, Sociologia."

E lembrou quando foi convidado a visitar uma fábrica e o jornalziinho do sindicato estava "passeando" na linha de montagem – cada trabalhador pegava o seu. "Eu falava, puxa, como mudou. No meu tempo a gente tinha que enfrentar polícia e quebrar corrente para a gente poder entregar um jornalzinho", contou. E acrescentou: "Nós fomos muito persistentes, porque conseguimos criar aqui uma consciência sindical."

A cerimônia, conduzida pelos atores Celso Frateschi, ex-secretário de Cultura de São Paulo, e Letícia Sabatella, promoveu uma volta ao passado. Imagens do presidente em diferentes fases da vida eram projetadas em três telões enquanto os atores liam a "linha do tempo" de Lula – do nascimento, em Garanhuns (PE), à vida de operário e político. A atuação como líder sindical foi relatada em vídeo prodizido pela TV dos Trabalhadores, do Sindicato dos Metalúrgicos.

As homenagens incluíram o Hino Nacional interpretado por um grupo de chorinho, uma canção entoada por Djalma Bom (ex-suplente no primeiro mandato de Lula como presidente do sindicato) e um presente especial: as fichas de filiação do presidente no sindicato e na Associação dos Metalúrgicos Aposentados, entregues por três antigas funcionárias do sindicato – Luiza Maria de Farias (a "tia da lanchonete"), Zelinha do café e Dra. Nébia (médica do sindicato).

Lula se declarou emocionado, disse que estava preparado para chorar mas achou que o momento não era para lágrimas. "O que é gratificante, passados todos estes anos, cada um torcendo para o time que queira torcer, cada um acreditando no partido em que queira acreditar, cada um querendo ser da religião que bem entende. O que nós fizemos nesses 30 anos foi dar uma demonstração de sabedoria política, de não perder a nossa relação de amizade pelas nossas divergências", discursou o presidente. E concluiu: "Nós somos amigos e não tenho dúvida que, da minha parte, nós morreremos amigos e ainda vamos ver muita coisa acontecer neste país."