Pinguelli prevê novo apagão se não houver investimento no setor energético

22/07/2004 - 13h48

Keite Camacho
Repórter da Agência Brasil

Cuiabá (MT) - "Hoje, temos sobra de energia mas, se não houver investimentos no setor, vai haver novo apagão em um prazo de três anos", alertou nesta quinta-feira o professor Luiz Pinguelli Rosa, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), durante a 56ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que acontece em Cuiabá.

"Posso estar errado, mas o setor precisa de investimentos da ordem de R$ 10 bilhões ao ano", disse o professor. Pinguelli tratou das Perspectivas do Setor Elétrico no Brasil e disse discordar do caminho seguido hoje pelo governo do presidente Lula. Para ele, o setor público deveria estar investindo em energia e não aguardando investimentos privados.

"Discordo que o setor elétrico vá ter a sua expansão pelo investimento privado, sobretudo estrangeiro. Espera-se que as condições do país atraiam investimentos mas isto não está ocorrendo", disse. "A outra maneira é que as públicas invistam, mas não está acontecendo".

Segundo ele, o investimento público não ocorre porque se espera o investimento privado. Pinguelli contou que uma discussão realizada por um grupo técnico coordenado por ele antes das eleições presidenciais concluiu que o ideal seria colocar a energia elétrica sob a égide do setor público. "Poderia ser exercida por empresas privadas mas sob a concessão do público, sendo a tarifa regulada", disse. "Os neoliberais fizeram a desregulamentação sob a égide do mercado", disse.

Pinguelli Rosa considerou que o governo Lula tomou medidas para mudar o modelo elétrico, cumprindo a promessa de não continuar com as privatizações. "Furnas, pertencente à Eletrobrás, seria a próxima", contou. "O problema é que o sistema adotado para garantir a expansão do setor combina investimentos públicos e privados. Para que os públicos ocorram, espera-se que os privados aconteçam".

Segundo ele, uma das questões levantadas durante a reunião do grupo técnico foi a volta da regulamentação, para que as empresas seguissem regras. Ele adiantou ainda que está em processo a criação a Empresa de Planejamento Energético, idéia do grupo, que será instituída pelo governo.

Com a preocupação de não ser negativo para o mercado, Pinguelli disse que o governo não adotou a proposta do grupo para o modelo energético. "Seria criado um pool, onde todas as empresas geradoras públicas ou privadas deveriam vender a sua energia para as distribuidoras. Para isso, precisaria haver uma empresa pública forte, responsável pela intermediação. Considerando que isto assustaria o mercado, o governo optou pelo sistema em que todas as geradoras vendem para todas as distribuidoras, resultando em aproximadamente mil contratos. Este foi o sistema aprovado", concluiu.