Sociedade Brasileira de Bioética critica carta preparada pela CNBB para os senadores

25/06/2004 - 20h59

Juliana Cézar Nunes
Repórter da Agência Brasil

Brasília – O presidente da Sociedade Brasileira de Bioética, Volnei Garrafa, criticou hoje a carta elaborada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) para convencer os senadores a não incluir na Lei de Biossegurança a autorização para retirada de células-tronco de embriões humanos. A lei está em tramitação no Congresso Nacional, em análise pelas comissões da Câmara e do Senado.

"O estado brasileiro é pluralista. Não pode uma religião, por mais importante que ela seja, interferir nas visões morais da sociedade como um todo", defende Garrafa que é professor e pesquisador da Universidade de Brasília. "Essa é uma clara intromissão da igreja no estado. E, lamentavelmente, o Congresso costuma se agachar frente a essas pressões."

Os cientistas acreditam que as células-tronco podem ser usadas em tratamento de doenças degenerativas e problemas no aparelho locomotor. Experiências laboratoriais e clínicas tentam provar que, no corpo humano, esse tipo de célula se transforma em qualquer célula ou tecido. Para os bispos, esse tipo de tratamento não justifica o "assassinato" de embriões. A CNBB só aceita o uso de células-tronco retiradas do cordão umbilical e do próprio corpo do paciente adulto.

Para o presidente da Sociedade Brasileira de Bioética, a Lei de Biossegurança não deve ser avaliada apenas pelos pontos de vista religioso ou científico. "Não estamos diante de uma questão técnica, mas moral. Hoje, não discutimos mais o que podemos fazer, mas o que devemos", explica Garrafa, que é favorável às pesquisas com célula-tronco a partir de embriões abandonados em clínicas de reprodução assistida.

"É preciso, no entanto, de um regulamentação muito consistente, onde esteja previsto, por exemplo, o cadastramento dos centros de pesquisa que irão trabalhar nessa área."