Garimpeiros de Rondônia pedem apoio no Congresso Nacional

26/04/2004 - 21h01

Brasília, 26/04/2004 (Agência Brasil - ABr) - Uma comitiva com 10 garimpeiros de Rondônia chegou nesta segunda-feira a Brasília. No final da tarde eles estiveram no gabinete do senador Valdir Raupp (PMDB-RO). Os garimpeiros buscam apoio no Congresso para pressionar a Polícia Federal a intensificar as investigações sobre os assassinatos ocorridos este mês na reserva indígena Roosevelt. Desde a semana passada, cerca de 280 agentes de 23 órgãos federais atuam na área de 2,7 milhões de hectares, onde vivem 1,5 mil índios da etnia Cinta-Larga.

"É pouco. Precisamos de mais gente do Exército lá", defende Paulo Roberto Oliveira, presidente do Sindicato dos Garimpeiros do Estado de Rondônia. De acordo com ele, o Sindicato reprova a invasão de terras indígenas para a exploração mineral. Mas reconhece que a situação econômica dos moradores da região torna a atividade inevitável.

No Congresso, Oliveria tentará convencer os parlamentares que não restrinjam a extração de diamante aos índios Cinta-Larga. "Concordo que as terras são deles, mas em um estado tão pobre e sem emprego como o nosso, não podemos dispensar os minérios, a grande riqueza da região. O certo seria trabalharmos em esquema de cooperativas", sugere o sindicalista.

Nos últimos 20 dias a PF resgatou 29 corpos na reserva Roosevelt. Desses, 13 foram reconhecidos como garimpeiros, e os outros, pelo avançado estado de decomposição, tiveram de ser enterrados nesta segunda-feira sem identificação. Os mortos foram localizados na reserva por 15 técnicos da Funai, a partir de informações obtidas com os próprios índios.

Os garimpeiros que estiveram hoje no Congresso contam que trabalhavam na reserva com autorização dos próprios índios. Duas cópias de supostos contratos foram entregues ao senador do PMDB. Ex-governador de Rondônia, Valdir Raupp prometeu encaminhar os documentos e as reivindicações dos garimpeiros à comissão especial da Câmara dos Deputados que irá estudar formas de regulamentar a exploração mineral em terra indígenas.

"Temos que fazer essa jazida de diamante, considerada a maior do mundo, beneficiar os índios e os moradores da região", avalia Raupp, que defende a instalação de um posto da Caixa Econômica Federal na área para regularizar a negociação do mineral. "Os lucros da exploração poderiam, inclusive, ser revertidos para a Funai, de modo a ajudar as muitas comunidades indígenas brasileiras que hoje vivem na miséria."

Sobrevivente do confronto da semana santa, o garimpeiro Walter da Silva, 40 anos, afirma que mesmo se a lei restringir o direito de exploração aos índios ele continuará atuando na região. "Não vou trabalhar no comércio para ganhar R$ 300 e não ter condições de sustentar meus três filhos", justifica Walter.

Morador de Espigão D´Oeste, ele diz ter pago até R$ 30 mil aos índios para entrar na reserva e passar 15 dias em busca de diamante. De acordo com ele, 20% do minério retirado era entregue aos Cinta-Larga. O restante era vendido para intermediários da cidade. Uma pedra no tamanho de grão de feijão vale cerca de R$ 20 mil.

"No dia do ataque, lá pelas 10h da manhã, a gente estava no cascalho da Grota do Sossego trabalhando. Ouvi os gritos de uns 100 índios, que chegaram pintados de vermelho e preto, atirando", relata Walter. "Logo eu vi um companheiro vindo na minha direção estrebuchando. Corri para montanha e me escondi. Ainda ouvi os gritos do pessoal amarrado, pedindo para os índios não fazerem aquilo."