Brasília, 9/3/2004 (Agência Brasil - ABr) - As Forças Armadas brasileiras não possuem hoje nenhum documento arquivado com informações sobre a Guerrilha do Araguaia. Eles teriam sido incinerados, no passado, segundo a legislação brasileira, e de acordo com normas das próprias Forças Armadas. A revelação é do ministro da Defesa, José Viegas, que participou na tarde de hoje de encontro com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva com a ministra da Defesa do Chile, Michelle Bachelet, no Palácio do Planalto.
"Todos esses documentos foram incinerados de acordo com a lei, e há muitos anos. O que existe de informações são as secundárias, recolhidas de fontes privadas, e depois repassadas de volta para a Comissão. Mas não há informação original nas Forças Armadas sobre este ponto".
O ministro não soube informar que lei permitiu a destruição dos documentos. Mas deixou claro que toda a documentação foi destruída dentro da legalidade. "Elas foram destruídas de acordo com as normas, sem violação. Elas não foram clandestinamente destruídas. Foram oficialmente destruídas. A lei permitia", garantiu.
Questionado sobre documentos que teriam sido entregues ao ex-ministro da Justiça Maurício Correia, em 1993, relacionados à guerrilha, o ministro voltou atrás e disse que não sabia se os documentos tinham sido destruídos nas décadas de 70 e 80. "Isso não quer dizer que não tenha havido incineração alguma, e eu nem sequer estou afirmando que a incineração se deu em qual ou tal ano. Isso ocorreu, imagino, antes do governo Fernando Henrique Cardoso. No arquivo das Forças Armadas não há documentos. Eles foram incinerados", reiterou.
Com relação às investigações do governo sobre a guerrilha, conduzidas pela Comissão Especial do governo coordenada pelo Ministério da Justiça, José Viegas garantiu que o Executivo está empenhado em manter os trabalhos a fundo. "Estamos dentro dos prazos, estamos nos reunindo, e continuaremos a dar como estamos dando o nosso empenho e a nossa contribuição para resolver essa questão", afirmou.
O ministro José Viegas admitiu, entretanto, que encontrar as ossadas de desaparecidos da guerrilha é uma tarefa difícil para o governo. E deixou claro que no final dos trabalhos podem não surgir resultados animadores que desvendem o universo dos guerrilheiros do Araguaia. "O que acontece é que o ato de encontrar as ossadas é sumamente difícil. Passaram-se 30 anos, expedições foram realizadas, continuam sendo realizadas. Então vamos esperar que nós consigamos um resultado positivo. Mas ninguém pode prometer esse resultado positivo. Nós temos que continuar buscando, intensificando as nossas buscas, as investigações, com esperança de conseguir um resultado positivo. Mas ele é incerto", disse.