Pesquisador diz que movimento zapatista faz guerrilha pacifista

05/06/2003 - 23h06

Brasília, 5/6/2003 (Agência Brasil - ABr) - A história do movimento zapatista foi discutida, hoje, durante exibição do vídeo "México Rebelde", de Pedro Ortiz, na Biblioteca Demonstrativa de Brasília. Após o documentário, o estudioso da questão indígena na América Latina, Marco Fernandes Brige, apresentou o resultado do trabalho de um grupo de pesquisadores, do qual ele faz parte, que tem acompanhado o movimento desde o início.

Brige acredita que o movimento tem sido mal interpretado pela mídia e pela sociedade internacional. Os zapatistas, segundo ele, se diferenciam de outros movimentos de guerrilha por serem pacifistas e não terem a tomada do poder como objetivo. "O lema deles é a dignidade e justiça para todos. Eles querem um mundo onde caibam todos os mundos", explicou.

O pesquisador explica que os zapatistas só fizeram uso da violência nos doze primeiros dias do movimento, iniciado em 1º de janeiro de 1994. "Eles ainda mantêm as armas, mas só usam para se defenderem", argumenta Marco Brige.

O movimento teve origem no estado de Chiapas, onde a população tem as piores condições de vida de todo o México. Apesar da pobreza da comunidade, o local é rico em urânio, petróleo e água. Cerca de 70% da energia elétrica consumida no país é produzida na região, mas apenas 30% da população de Chiapas têm acesso a esse recurso. Hoje, o zapatismo reúne sete etnias mexicanas diferentes que têm como principal porta-voz o subcomandante Marcos.

Um dos integrantes do grupo de pesquisa, o professor da Escola de Comunicação e Arte (ECA-USP) Massimo Di Felice, acompanhou a marcha zapatista à Cidade do México, em 2001. Eles percorreram seis mil quilômetros do sul do país à Cidade do México. Atravessando 12 estados, o objetivo da marcha era despertar a simpatia da população para a causa indígena. Os índios constituem 10% da população mexicana.

A experiência foi registrada no livro "Votán Zapata – A marcha indígena e sublevação temporária", lançado no semestre passado pelos pesquisadores. O próximo livro sobre as mulheres dentro do movimento rebelde deve ser lançado em setembro. O grupo que tem trabalhado de forma independente pretende ainda estudar outras sociedades indígenas da América Latina.