Ciência e Tecnologia garantem segurança na identificação humana

14/02/2003 - 14h57
Impressões datiloscópicas não se alteram por toda a vida

Brasília, 14/2/2003 (Agência Brasil – ABr) – Os desenhos das linhas papilares contidas na extremidade dos dedos, na palma das mãos e na planta e dedos dos pés começaram a ser estudados em 1664, mas só no final do século XIX tais estudos foram elevados à condição de ciência e denominada de papiloscopia.

Em 1891, Henry Varigny, na França, e Juan Vucetich, na Argentina, estabeleceram métodos de identificação baseados nas características únicas dos desenhos papilares, por meio dos quais duas ou mais pessoas não se confundem. De acordo com os especialistas, para se encontrar uma outra impressão digital com 12 pontos característicos coincidentes seria necessário procurar em mais de 12 quintilhões de pessoas.

Diante de tanta precisão, não demorou para o sistema datiloscópico conquistar o mundo e ser adotado por vários países como o mais eficiente e seguro método de identificação humana. A identificação datiloscópica chegou ao Brasil em 1903 por iniciativa do jornalista e diretor do Gabinete de Identificação do Distrito Federal/RJ, Félix Pacheco. Ele ficou fascinado pela nova ciência ao assistir a uma palestra de Juan Vucetich, em 1901, em Montevidéu, na Argentina, no II Congresso Científico Latino-Americano.

O sistema datiloscópico criado por Vucetich combina 38 tipos de impressões digitais divididos em três grupos: arcos, verticilos e presilhas (interna e externa). O sistema é composto de fórmulas teóricas obtidas pela permutação de letras e números dos dez dedos. As letras A-I-E-V oferecem 16 combinações básicas, enquanto os números 1-2-3-4, elevados à sua quarta potência, apresentam 256 combinações para cada dedo.

Tais combinações, multiplicadas pelos quatro dedos (exceto o polegar) oferecem 1.024 fórmulas diferentes para o conjunto de dedos da mão direita que, multiplicadas por igual número de combinações dos dedos da mão esquerda, resulta em um arquivo contendo 1.048.576 fórmulas primárias. Este sistema já permitiria o arquivamento de milhões de impressões digitais, mas diante do aumento progressivo da população, Vucetich criou 5 outros subtipos para cada tipo fundamental, elevando a capacidade do arquivo para 10 milhões 240 mil fórmulas teóricas.

Identificação papiloscópica foi adotada no Brasil por iniciativa do jornalista Félix Pacheco

Derivado de dois termos greco-latinos: Daktilos (dedos) e Skopein (examinar), a Datiloscopia – estudo dos desenhos digitais – é apenas um dos processos de identificação utilizados pela Papiloscopia, ciência que tem por objetivo o estudo detalhado e minucioso dos desenhos papilares para estabelecer a identidade de pessoas. A Papiloscopia é dividida em cinco áreas: datiloscopia (processo de identificação por meio das impressões digitais), Quiroscopia (identificação das impressões palmares), Podoscopia (identificação das impressões plantares), Poroscopia (identificação dos poros) e critascopia (identificação das cristas papilares).

Prática e eficiente, a Datiloscopia é o processo mais utilizado pelos peritos papiloscopistas na pesquisa de impressões digitais destinada a descobrir a identidade de criminosos ou até mesmo de cadáveres (exame necropapiloscópico). E a razão para tanta importância é simples: tudo no homem se modifica com o passar do tempo, menos os desenhos na palma das mãos e na extremidade dos dedos.

Formados desde o quarto mês de vida intra-uterina, os desenhos papilares só desaparecem com a putrefação do corpo. Já foi constado a existência de impressões digitais claramente visíveis em múmias egípcias com mais de 5.000 anos.

Ferramentas sofisticadas

A arte de decifrar os desenhos da impressão digital requer muito mais do que perícia, habilidade e conhecimento. A papiloscopia é uma ciência que tem a tecnologia como matéria-prima. Reagentes químicos, decalcadores especiais, luzes infra-vermelha e ultra-violeta e sofisticados equipamentos de informática são ferramentas básicas no trabalho de coleta, identificação e armazenamento de impressões digitais realizado pelo perito papiloscopista.

Para se revelar uma impressão digital com sucesso é preciso escolher um agente químico ou físico que reaja com os componentes orgânicos, inorgânicos, citoplasma e substâncias gordurosas liberados pelas glândulas da pele – ácrinas, sebáceas e apócrinas – sem contaminar a superfície onde a impressão se encontra.

O arsenal para tratar e revelar fragmentos de impressões invisíveis deixadas em locais de crime ( chamadas de latentes) é imenso: mikrosil, decalcador de gelatina, iodo, DFO, ninidrina, violeta genciana, nitrato de prata, cianocrilato, amido black, negro de fumo, amarelo padrão, reagente de pequenas partículas, corantes fluorescentes, lanterna ultra-violeta, câmara de vaporização, umidificador e câmara de vácuo.

"Cada agente químico tem sua especificação, e fatores como a idade, exposição ao ambiente e à superfície onde se encontra a impressão têm profundos efeitos", explica o perito Nadiel Dias da Costa, do Instituto de Identificação do Distrito Federal, acrescentando que escolher o instrumento correto para cada tipo de revelação é um importante componente no trabalho do perito papiloscopista.

Cianoacrilato - é o reagente mais utilizado nas investigações. Os vapores de cianoacrilato reagem com a umidade das impressões digitais e é muito útil sobre a maioria das superfícies não porosas, como plásticos, metais, vidros e papéis plastificados. Também produz excelentes resultados em isopor e sacolas plásticas.

Ninidrina - reage com os aminoácidos e é capaz de revelar impressões papilares que foram depositadas há até 50 anos, especialmente quando deixadas sobre papel. É excelente para superfícies porosas.

Amido black - reage com as proteínas e é muito utilizado para revelar impressões contaminadas com sangue.

Nitrato de Prata – reage com cloretos e sais de secreções da pele. Muito empregado para revelar impressões em papelão, papel jornal e madeira.

DFO – duas vezes mais poderoso que a ninidrina, também é útil para revelar manchas fracas de sangue. Requer o auxílio de uma fonte de luz especial (ultravioleta)

Iodo – reage com óleos e depósitos de gordura. Ideal para buscas de impressões latentes sobre papel, cédulas de dinheiro, tecidos e lenços de papel.

Violeta genciana – atua tingindo as células mortas e resíduos de transpiração deixados na parte aderente de fitas crepe, isolonte, durex e esparadrapo.

Reagente de pequenas partículas - adere aos componentes gordurosos encontrados em impressões latentes. Aplicado sobre superfícies não–porosas, especialmente carroceria de automóvel, vidros e materiais encerados.

Pó fluorescente – preferível quando a impressão se encontra sobre um fundo confuso.

Decaldador de gelatina - utilizado na decalcagem de impressões deixadas em luvas cirúrgicas.

Tecnologia de ponta

A tecnologia da informação também é um grande aliado da papiloscopia nas investigações civil e criminal. Computadores de última geração, scanners de alta resolução e softwares sofisticados estão revolucionando o processo de identificação positiva por meio de impressões digitais.
O mais novo instrumento incorporado ao arsenal tecnológico é o Automated Fingerprint Identification System (Afis), um sistema de identificação de impressão digital automatizado capaz de processar 200 mil comparações de impressões digitais por segundo. Depois de coletadas e tratadas, as impressões são classificadas e armazenas pelo computador junto com outras informações disponíveis, como dados pessoais, fotografias e assinaturas.

No sistema Afis as impressões digitais requisitadas são automaticamente classificadas e processadas pelas características relacionadas dentro da mesma classificação. O sistema não elimina o trabalho do perito. Ele seleciona probabilidades, agilizando o trabalho de análise manual de cada ficha, cabendo ao perito confirmar ou não a identificação.

Para assegurar a identidade de uma pessoa por meio da impressão digital, o perito precisa assinalar 12 pontos característicos coincidentes dentre linhas, delta, ponto déltico, linha axial, linhas espirais, círculos, letras e sinais gráficos que compõe uma digital. Esse número pode cair para até oito pontos caso se tenha pelo menos uma figura característica rara, como marca de nascença ou cicatriz.

Realizar esse trabalho manualmente, selecionando fichas e comparando as impressões individualmente demanda um longo tempo. Com o sistema Afis, o computador seleciona previamente as digitais com base em características comuns, limitando drasticamente a quantidade de impressões que devem ser comparadas pelos especialistas.

Segundo o diretor do Instituto de Identificação do Distrito Federal (IIDF), Iverton Batista de Carvalho, o Afis permite um melhor gerenciamento do trabalho de pesquisa e confronto de digitais, permitindo que peritos dediquem mais tempo para buscas complexas de impressões digitais em cenas de crime, onde suas habilidades especializadas desempenham um papel importante para resolver crimes.

Até o final do ano, o IIDF estará equipado com um sistema Afis que armazenará os 280 mil registros decadatilares e mais de um milhão de fragmentos de impressões digitais latentes arquivados no órgão. A aquisição do sistema é parte do convênio firmado com o Ministério da Justiça dentro do Plano Nacional de Segurança.

Um Afis bem projetado pode ajudar a policia a se valer de evidências de impressão digital para aumentar a percentagem de crimes solucionados. No caso de Brasília, por exemplo, o Instituto de Identificação conclui cerca de 50 laudos positivos por mês. Com a nova tecnologia, esse número atingirá o mínimo de 350 laudos por mês.

Além de melhorar a identificação criminal, a tecnologia do Afis também agilizará os procedimentos de identificação civil e segurança pública. Segundo Carvalho, com a nova ferramenta, será possível confeccionar uma carteira de identidade em 72 horas, no caso de primeira via, e em 24 horas, no caso de segunda via, bem como coibir fraudes contra o INSS, FGTS, e as denominadas contas fantasmas.