Governo pede o apoio da mídia no combate às drogas

21/06/2002 - 14h48

Brasília, 21 (Agência Brasil - ABr) - O governo federal quer o apoio da mídia brasileira para ampliar as medidas de combate às drogas e garantir a veiculação de ações preventivas ao consumo de entorpecentes em todo o país. Com este objetivo, representantes de empresas jornalísticas, do governo federal e de especialistas no tema discutiram hoje o papel da mídia na prevenção ao uso de drogas, como parte das comemorações à IV Semana Nacional Antidrogas - que começou quarta-feira passada e termina na próxima quarta.

O debate foi mediado pelo presidente da Radiobrás, Carlos Zarur, e teve como participantes a coordenadora de projetos sociais da Rede Globo, Lacy Barca, o médico Jairo Bouer (que possui programa na MTV), o psicanalista Arthur Guerra, e os jornalistas do Correio Braziliense e da TV Bandeirantes, Eumano Silva e Fábio Pannuzio. Durante mais de quatro horas, eles discutiram estratégias para aproximar as ações de combate às drogas da realidade dos meios de comunicação de massa brasileiros.

O secretário nacional antidrogas, Paulo Uchoa, abriu o debate, defendendo participação maior da mídia para tornar mais eficaz o combate ao consumo de entorpecentes. A veiculação do tema pelos meios de comunicação de massa é, na avaliação do secretário, um mecanismo eficaz na luta contra as drogas e pode auxiliar diretamente as políticas desenvolvidas pelo governo federal.

O ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Alberto Cardoso, também fez rápida palestra antes do início do debate e ressaltou que a violência caminha junto com o consumo de entorpecentes. Segundo o general, "ora a droga causa a violência, ora a violência é induzida pela busca às drogas".

Ele disse que a repressão é um mecanismo essencial para diminuir o consumo de drogas no país, mas enfatizou que as ações repressivas só garantem resultados positivos se aliadas a uma política paralela de prevenção. "A prevenção é o caminho adequado. Atuar só com a repressão é como enxugar o chão com a torneira aberta", disse.

Na opinião do ministro, o problema só pode ser enfrentado tendo como base a substituição de valores negativos que se disseminaram pela sociedade do consumo por valores de auto-estima do ser humano. "Nos vácuos abertos, entra o consumismo e as expectativas de consumo, que muitas vezes não podem ser atendidas pelas condições de vida dos jovens e de suas famílias", disse o general.

Ele defendeu a mídia como um dos instrumentos mais poderosos para fortalecer os valores positivos nos jovens e citou como exemplo a novela "O Clone", da Rede Globo, que levou para dentro das famílias as discussões sobre o consumo de entorpecentes. Segundo o general, desde o início da campanha antidrogas na novela as chamadas para o telefone da Secretaria Nacional Antidrogas (0800-614321) - que divulga informações sobre a prevenção e o combate às drogas - aumentaram cinco vezes. "Isso talvez seja um marco na história do enfrentamento da droga no Brasil", enfatizou.

A mídia não garante, entretanto, apenas exemplos positivos para o combate às drogas. Na opinião do médico e apresentador da MTV, Jairo Bouer, a glamourização de drogas lícitas e a associação do consumo com imagens de prazer tem sido um erro dos meios de comunicação de massa. Um avanço já alcançado nessa área foi, segundo ele, a proibição do governo para a veiculação de propagandas de cigarros em todas as revistas, jornais e emissoras de TV do país.

O jornalista do Correio Braziliense, Eumano Silva, ressaltou que a discussão sobre o consumo de drogas está hoje presente nas diversas esferas da sociedade e já conseguiu penetrar, inclusive, nos meios de comunicação. "Grande parte das matérias sobre violência está vinculada ao uso de drogas. Todos os dias, há assuntos dessa natureza nas mais diversas editorias, como roubo, assassinato, contrabando de armas e assim por diante", disse.

O repórter Fábio Panuzzio, da TV Bandeirantes, vivenciou bem de perto a realidade do tráfico e o consumo de drogas durante uma série de reportagens realizadas na Colômbia. Segundo Fábio, o país é responsável por dois terços da produção de drogas consumidas em todo o mundo e já lucrou mais de US$ 500 bilhões com o tráfico. Na opinião do jornalista, a imprensa precisa se dar conta de que as drogas são hoje uma verdadeira guerra, tanto na Colômbia quanto em outras partes do mundo, inclusive no Brasil. "É necessário enfrentar essa guerra em várias frentes de batalha, o mais rápido possível", defendeu.