Dia do Índio é comemorado na Funai

19/04/2002 - 21h21

Brasília, 19 (Agência Brasil - ABr) - Cestos, cerâmicas, cocares coloridos. O artesanato indígena está em exposição a partir desta sexta-feira no 23º Moitará, evento organizado pela Funai como parte das comemorações do Dia do Índio. Com o tema Terra, Arte e Alimento - O Ciclo da Vida, a instituição homenageia, este ano, os Karajás, Krahôs e Xerentes do Estado de Tocantins. Representantes dessas nações mostram suas habilidades com a cerâmica, a cestaria e o preparo de beiju, numa cozinha improvisada na loja Artíndia, na sede da Funai, em Brasília.

Na abertura do evento compareceram o vice-presidente da Fundação Nacional do Índio, Artur Nobre, e a secretária-executiva do ProVida do governo de Tocantins, Raquel Bittar, que desenvolve o programa Pão e Arte com as comunidades indígenas. O projeto visa dar saúde através da alimentação e estimular a produção do artesanato dessas comunidades.

"O Moitará é uma expressão máxima da cultura indígena para a sociedade não índia. É muito importante essa relação intercultural, para que as pessoas façam uma reflexão e até para diminuir a discriminação e o preconceito", explicou o índio xerente Sõpre, representante dos povos indígenas no Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama).

"Eu vejo com muito otimismo a questão indígena. Se olharmos para 20 anos atrás, veremos que a situação do índio é completamente diferente, e para melhor", destacou Artur Nobre. O Brasil tem hoje 365 mil índios vivendo em aldeias, divididos em 216 sociedades diferentes. Para se ter uma idéia da diversidade cultural basta olhar o número de línguas faladas: 180. "Os índios vêm crescendo tanto numericamente quanto na vida brasileira, política e culturalmente. Eles estão se organizando e ganhando maior autonomia", comemora.

Segundo o vice-presidente da Funai, a demarcação de terras representa o maior progresso do governo na questão indígena. De 1998 até hoje, 58 milhões de hectares foram demarcados em todo o país. Mas nem tudo é motivo de comemoração. A fiscalização das reservas é uma das grandes dificuldades enfrentadas pela Funai. "Essa parte é feita de forma descentralizada pelas administrações regionais que não estão suficientemente aparelhadas", lamentou Nobre.

Do ponto de vista dos índios, Sõpre acredita que os maiores desafios são criar formas de participação nas decisões que dizem respeito a eles e revitalizar as tradições. Além de participar do Conama, ele é engenheiro florestal e presidente do Conselho deliberativo da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira. "Os povos indígenas brasileiros estão passando por uma crise de identidade. Estamos tentando, na medida do possível, chegar o mais próximo daquilo que éramos. É difícil porque quem tem que resgatar isso somos nós".

Mas o índio xerente não defende o isolamento das comunidades indígenas. Pelo contrário, ele acredita que para resgatar a língua, por exemplo, é necessário uma renovação. A língua é dinâmica e precisa se contextualizar nas novidades, como a informática. "A influência não indígena, como no caso da música e da dança, está fazendo com que os jovens não se empenhem completamente como antes nessa questão cultural e tradicional". É visitar a exposição e descobrir que, apesar das dificuldades, muitos estão se dedicando a isso: índios e não índios.

O 23º Moitará pode ser visitado na sede da Funai (SEPS 702/902, edifício Lex) até o próximo dia 26 de segunda a sexta, de 9h às 17h, e sábado e domingo, de 14 às 18 h. As peças em exposição estão à venda e a renda é destinada às comunidades indígenas. No domingo, ainda em comemoração ao Dia do Índio, a Funai organiza o Futebol da Amizade, às 10h, no Clube dos Advogados (SCES, Trecho 2, Lote 32). O time indígena jogará contra advogados e profissionais liberais de Brasília. Antes do amistoso, terá a apresentação de dança das etnias participantes.
(Adriana Nishiyama) e