No Rio, pacientes buscam vaga na rede pública de saúde

26/12/2013 - 17h03

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Isabela Vieira*
Repórter da Agência Brasil

Rio de Janeiro – Na semana passada, a Agência Brasil conversou com cariocas que estavam em busca de vagas para amigos e parentes na rede pública de saúde, problema, segundo os entrevistados, enfrentado com frequência.

No último dia 19, a diarista Francisca Aparecida Martins praticamente cruzou a cidade para conseguir atendimento para o marido, que tem câncer de pulmão avançado e usa uma cadeira de rodas. Foi recusada em dois hospitais antes de ser atendida, por volta das 16h, na emergência do Hospital Estadual Rocha Faria, na zona oeste. Apesar de o médico ter recomendado a internação do marido, a diarista precisava esperar que um leito ficasse vago.

“Isso aqui [a saúde] é um direito, vou deixar ele morrer em casa?”, desabafou Francisca, ao sair do Hospital Federal de Bonsucesso. “O problema é grave, e eu fico peregrinando?”, questionou a diarista, que há dois meses procura um leito para o marido. “Ele precisa de uma cirurgia de tórax, uma biópsia e o tratamento para o câncer. Não sei mais como recorrer.”

“Tenho um pedido médico para a internação [da mãe no CTI], mas não tem leito”, contou uma mulher, que não quis se identificar, e estava no Hospital Estadual Getulio Vargas. Ela relatou que a mãe está internada na unidade, na zona norte, desde outubro, e agora precisa ir para o CTI. Diabética, precisou amputar uma perna. Depois, contraiu uma infecção generalizada que não foi esclarecida. Durante a internação, sofreu um acidente vascular cerebral que não foi informado à família.

“Minha mãe passou por tudo isso e está na emergência, quando deveria estar no CTI”, disse, acrescentando que a emergência do hospital está um caos, superlotada, com pessoas sendo atendidas no corredor e algumas sem roupa. A Secretaria Estadual de Saúde confirmou que a unidade "opera 200% acima da capacidade".

Em Bonsucesso, também esperando um leito para a vizinha doente, estava outra acompanhante, que não quis se identificar. “Eles [recepcionistas] perguntam: está morrendo? Se não está, tem que esperar", disse e informou que a vizinha aguardava por uma maca, sentada em uma cadeira no corredor. "Eles liberaram ela na semana passada, mas tivemos que voltar. O atendimento está péssimo, de qualquer jeito”.

Há cerca de duas semanas pacientes que esperavam para fazer exame de sangue no Hospital de Bonsucesso revoltaram-se com a demora no atendimento por causa da falta de material, informou a Defensoria Pública da União (DPU).

Segundo o defensor Daniel Macedo, a situação em Bonsucesso não é isolada. Para ele, a condição dos hospitais da rede pública no Rio é “terminal”. Nos últimos anos, a defensoria têm ingressado com uma série de ações judiciais para garantir atendimento aos pacientes. Na avaliação de Macedo, o problema no estado do Rio é sistêmico, com sinais de calamidade e reflexos de má gestão.

“São vários fatores como a baixa remuneração dos médicos, a alta rotatividade de profissionais, a falta de concursos periódicos, a má gestão dos recursos que chegam [do ministério]. Somando tudo, o resultado é essa calamidade. O governo federal nos virou as costas”, disse o defensor.

Em 2012, A DPU entrou com uma ação contra o Hospital de Bonsucesso e obteve na Justiça a decisão que prevê atendimento e estabilização dos pacientes, principalmente na emergência, antes de serem transferidos para outra unidade de saúde, com garantia de leito. Segundo Macedo, a medida não tem sido cumprida e a defensoria estuda retomar o caso.

Procurado pela Agência Brasil, o ministério disse que "a situação é complicada" e informou que ações estão sendo adotadas para reestruturar os seis hospitais federais – Andaraí, Lagoa, Ipanema, Cardoso Fontes, Bonsucesso e dos Servidores do Estado – “como forma de qualificar o atendimento aos usuários “do Sistema Único de Saúde (SUS), e visando a “recompor a força de trabalho nos hospitais federais do Rio de Janeiro”.

Uma das medidas foi a autorização, publicada em novembro, para a contratação temporária de 1.578 profissionais, sendo 411 médicos. No primeiro semestre de 2013, foi feita a primeira contratação emergencial do ano, com 499 profissionais, dos quais 182 médicos. Segundo o ministério, entre 2010 e 2012, foram feitos dois concursos públicos, com a nomeação de 1.536 aprovados.

* Colaborou Alana Gandra
 

Edição: Carolina Pimentel

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