Parentes de Honestino Guimarães dizem que perdoam responsáveis por sequestro e desaparecimento

10/10/2013 - 19h33

Luciano Nascimento
Repórter da Agência Brasil

Brasília – Parentes de Honestino Guimarães disseram hoje (10) que perdoam os responsáveis pelo sequestro e desaparecimento do líder estudantil e ex-presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE). O anúncio foi feito durante o lançamento da campanha que visa a buscar informações sobre Honestino, desaparecido após ter sido preso pelo Centro de Informações da Marinha (Cenimar), na ditadura militar, há exatos 40 anos.

"Gostaria de dizer que vou perdoar aquelas pessoas que tiveram algum tipo de envolvimento com o sequestro, a tortura, o cárcere privado e a morte de Honestino Guimarães. Muitos podem até não compreender, mas essa decisão foi tomada pensando no passado e no futuro", revelou o sobrinho, Mateus Guimarães, para quem o perdão também é compartilhado pelo irmão, Gabriel Guimarães, após um longo processo de reflexão.

Mateus fez um pedido para que os responsáveis pelo desaparecimento de Honestino entrassem em contato com a família para prestar informações e construir um processo de conciliação. Para a família, é fundamental conseguir esclarecer o que aconteceu com o ex-estudante de geologia da Universidade de Brasília (UnB).  

"Eu concordo com ele [Mateus]. Não existe sentimento de vingança, revanchismo, o que nos devem é um esclarecimento sobre o que aconteceu com o meu pai. O que passa com a gente é o absurdo de não se saber o que aconteceu", disse a filha de Honestino, Juliana Guimarães à Agência Brasil.

"É muito importante que a gente consiga esclarecer tudo o que ocorreu. Meu pai e minha avó não tiveram condição de tomar esta atitude, foi muita dor, muito sofrimento", desabafou Mateus. "Eu creio que a partir dessa atitude a gente pode de fato efetivar mudanças, porque o que todos nós queremos é paz e um mundo de igualdade e justiça e esse é o caminho que eu percebi como o mais correto e é o que o Honestino tomaria", complementou.

Aluno da Unb desde 1965, Honestino foi perseguido e preso várias vezes por seu envolvimento com a política estudantil. Em 26 de setembro de 1968, foi desligado da universidade como punição por ter liderado movimento pela expulsão de um falso professor da UnB, informante da ditadura. Por sua atuação no movimento estudantil foi condenado a 25 anos de prisão. Em 1968, com a edição do Ato Institucional Nº 5 (AI-5), que suspendeu várias garantias constitucionais, passou a viver na clandestinidade.

Em 1970, nasceu a filha Juliana, fruto do casamento com Isaura Botelho, e que conviveu com Honestino por apenas três anos. Quando o então presidente da UNE, Jean Marc van der Weid, foi preso, ele assumiu a presidência interina da entidade, permanecendo até 1971. No congresso da UNE naquele ano, foi eleito presidente. Coordenou encontros estudantis e lutou contra o regime militar até ser preso no Rio por agentes do Centro de Informações da Marinha (Cenimar), em 10 de outubro de 1973, quando desapareceu, após cinco anos de clandestinidade. Tinha 26 anos, quando desapareceu sem deixar qualquer vestígio.

"Esta denúncia à consciência democrática dentro e fora do país é a única arma de que disponho, mas não deixarei de lutar, esteja onde estiver, por uma democracia efetiva para a maioria de nosso povo", escreveu Honestino um dia antes de ser preso. Quarenta anos depois, ainda não se tem quase nenhuma informação sobre o que aconteceu com o líder estudantil.

"Eles [os torturadores] foram um instrumento de um sistema de opressão que vai pra muito além deles. As pessoas que foram agentes nesse processo devem ter muitas perturbações, pois fizeram coisas muito cruéis e creio que essa atitude [de perdoar] pode possibilitar uma conciliação que vai ser boa para a vida dessas pessoas também", ponderou Mateus.

A campanha "Trilhas de Honestino", lançada hoje em Brasília e no Rio de Janeiro, busca revelar fatos, informações e acervos sobre Honestino, que se tornou símbolo da luta contra a ditadura brasileira. Ela será desenvolvida prioritariamente por meio das redes sociais e na página honestinoguimaraes.worpress.com. As informações podem ser enviadas para o e-mail memoriahonestino@gmail.com.

"Cada pequeno relato por mais insiginificante que possa parecer, para a gente tem muito valor. Queremos que as pessoas contribuam com essa iniciativa para que a gente possa saber de fato o que aconteceu", disse Juliana.

 

Edição: Carolina Pimentel

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