Filme Serra Pelada é exibido na sessão de encerramento do Festival do Rio

09/10/2013 - 23h44

Cristina Indio do Brasil
Repórter da Agência Brasil

Rio de Janeiro - As mudanças na programação atingiram também a sessão de gala de encerramento do Festival do Rio. O filme Serra Pelada, dirigido por Heitor Dhalia, que seria exibido no Cine Odeon Petrobras, na Cinelândia, palco de tensos conflitos entre a Polícia Militar e manifestantes no centro do Rio, foi transferido para o Cinépolis Lagoon, na Lagoa, zona sul da cidade. Para o complexo de cinemas também foram levadas outras exibições durante o Festival e que seriam feitas no Cine Odeon, tradicional local da mostra Première Brasil.

Para a diretora do Festival do Rio, Ilda Santiago, é uma enorme honra poder fazer a gala de encerramento do Festival do Rio de 2013 com o filme Serra Pelada. “Um magnífico filme. Quero agradecer a Paranoid, a Tatiana Quintella e a Warner pela oportunidade de fechar o festival em tão grande estilo, com uma grande produção brasileira”, disse  

Serra Pelada começa com a viagem, em 1980, de Juliano (interpretado pelo ator Juliano Cazarré) e de Joaquim (uma atuação de Júlio Andrade) de São Paulo ao sul do Pará com o sonho de trabalhar e ganhar dinheiro com a exploração do ouro. Segundo o diretor Heitor Dhalia,  foi difícil contar a história de um garimpo que concentrou homens vivendo em condições precárias e enfrentando as ordens dos donos das áreas de exploração.

“ Estamos falando de um evento brasileiro bastante importante da nossa história recente. A maior corrida do ouro da era moderna. Maior concentração de trabalho manual desde as pirâmides do Egito, que tiveram 4 mil homens. Em Serra Pelada chegaram a trabalhar até 100 mil homens”, explicou.

O trabalho de pesquisa foi intenso e contou com documentários, fotos e relatos de pessoas que viveram no local. Conforme surgiam as informações, o roteiro ia se alterando. “O roteiro partiu do real”, completou o diretor.

Para retratar a realidade, a produção chegou a conclusão logo no início dos trabalhos de que não poderia filmar no local. A produtora Tatiana Quintella explicou que a infraestrutura necessária não era viável com o orçamento de R$ 10 milhões. “Quando a gente viu o orçamento perto do que a gente ia construir lá, a gente resolveu trazer para São Paulo e filmar também em Belém. Ficou mais barato. É a magia do cinema”, revelou.

O roteiro mostra as transformações pelas quais passam as vidas de Juliano e Joaquim. Juliano passa a explorar os garimpeiros e se transforma em matador, enquanto Joaquim sonha em voltar para  São Paulo e encontrar com a mulher que tinha deixado grávida. “Para mim a protagonista deste filme é a amizade desses dois personagens”, defende Cazarré.

A roteirista Vera Egito disse que a decisão de mostrar o início da exploração do garimpo de Serra Pelada foi porque o período marca a inocência de muitos que foram para lá pensando em vencer na vida e conseguir dinheiro. Para a roteirista, a inocência se transformou ao longo do tempo e a ganância levou a violência para as minas de ouro e para as cidades próximas, que passaram a se desenvolver enfrentando casos de crimes e prostituição. Na avaliação dela, o filme não teve a intenção de fazer o julgamento dos personagens. “A vida real é essa dramaturgia. O personagem vai em busca da transformação. A gente não julga um personagem. O segredo é não dar uma lição de moral a quem está assistindo o filme”, disse.

Wagner Moura, que representa o gangster Lindo Rico, é também um dos produtores do filme. Ele contou que não teve muita dificuldade em dividir as funções, porque tinha um número menor de cenas em comparação a outros personagens e também sabia qual era a função de Lindo Rico no filme. O ator disse que esse era um projeto que vinha trabalhando há muitos anos e por isso conseguiu ter uma visão mais ampla do que em Tropa de Elite 2, quando também foi produtor, com a diferença que precisava filmar todo dia.

“Teve uma hora em que eu falei que tinha que esquecer um pouco a conversa de produção e fazer o meu trabalho. No Serra Pelada não, eu filmei pouco e pude acompanhar. Eu sou um ator que sempre teve interesse em saber o que acontece ao redor. Depois que fiz o Tropa de Elite 2, eu fiquei com uma visão ainda mais ampla, de saber o que acontece antes de chegar no set de filmagem”, disse.

Fábio Massalli

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