Cardozo defende a ampliação de rede de atendimento a usuários de crack

19/09/2013 - 17h58

Thais Leitão*
Repórter da Agência Brasil

Brasília - Ampliar e fortalecer a rede de atendimento e assistência aos usuários de crack no país é um dos principais desafios revelados pela pesquisa Perfil dos Usuários de Crack e/ou Similares no Brasil, divulgada hoje (19) pelo Ministério da Justiça. Ao avaliar os dados, o ministro José Eduardo Cardozo enfatizou que 80% dos usuários de crack querem tratamento contra o uso da substância e que mais de 90% desejam receber apoio para conseguir emprego ou educação para reinserção social. Ele defendeu que as punições sejam aplicadas aos traficantes e que os usuários recebam apoio do Estado.

"Os narcotraficantes, que integram organizações criminosas, devem ser investigados e punidos com máximo rigor, porém usuários devem ser considerados como dependentes químicos e, portanto, passíveis de tratamento na área da saúde e no âmbito de políticas de reinserção social", disse o ministro. "Temos que ampliar a rede com qualidade", acrescentou.

Para Davi (nome fictício), que começou a usar a droga aos 14 anos, a motivação pessoal é a melhor arma para se livrar das drogas. Na tentativa de se afastar dos amigos que também faziam uso da substância, ele se mudou com a mãe para Brasília. Segundo Davi, se não houver uma forte decisão de abandonar o consumo o processo é muito mais difícil.

"Não adianta mudar de cidade, de bairro, se as coisas não mudarem dentro da gente. Justificativas sempre encontramos [para usar droga], mas, na verdade, começar o consumo foi uma decisão minha. Colegas me ofereceram e eu podia ter dito não", reconheceu o rapaz.

Na avaliação do ministro Cardozo, a existência de 370 mil usuários de crack, somente nas capitais e no Distrito Federal, entre os quais aproximadamente 50 mil crianças e adolescentes, indicam a gravidade do problema, que deve ser enfrentado pela integração de esforços entre as três esferas de governo. Ele acrescentou que o estudo confirma que o Programa Crack, é Possível Vencer, lançado em 2011 pelo governo federal, vem enfrentando a questão de forma acertada.

Cardozo reconheceu, no entanto, que ajustes no programa podem ser necessários para o direcionamento das ações a partir dos dados encontrados, como garantir um foco maior no Nordeste. A região concentra cerca de 40% dos usuários de crack nas capitais.

O secretário Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad), Vitore Maximiano, defendeu o fortalecimento das ações de prevenção, sobretudo nas escolas. De acordo com a pesquisa, os usuários de crack têm baixa escolaridade, sendo que apenas dois em cada dez cursaram ou concluíram o ensino médio. Em relação ao ensino superior, a proporção é ainda menor: cerca de 0,3% cursou ou concluiu o ensino de terceiro grau. Maximiano também ressaltou que, diante dos dados revelados pelo estudo, a discussão sobre a internação compulsória no país se torna desnecessária.

Segundo Maximiano, existem mais de 2 mil pessoas em comunidades terapêuticas, financiadas com recursos federais. A meta é ampliar para 10 mil vagas até 2014. Ele informou que a Senad publicou, este mês, o edital para a contratação de mais 3,2 mil vagas para o acolhimento nessas comunidades.

"Na medida em que 80% [dos usuários de crack] desejam se tratar, fica desnecessário o debate quanto à internação compulsória. Os índices de recuperação neste caso são baixos. Vamos cuidar de 80% das pessoas que querem se tratar e convencer os 20% que ainda não manifestaram esse desejo de buscarem tratamento", disse Maximiniano. Se a oferta existir na forma como planejamos, certamente será possível alcançar o universo das pessoas que vivem o sofrimento do uso da droga", acrescentou ele.

Além do Perfil dos Usuários de Crack e/ou Similares no Brasil, o Ministério da Justiça também divulgou a Estimativa do Número de Usuários de Crack e/ou Similares nas Capitais do País. Encomendadas pela Senad à Fundação Oswaldo Cruz, as pesquisas representam o maior e mais completo levantamento sobre o assunto no mundo.

*Colaboraram Ligya Maria e Thaís Passos, do Radiojornalismo.

Edição: Marcos Chagas

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