Autor de sucesso, Dominguinhos foi um dos ícones da música nordestina

23/07/2013 - 21h42

Aline Leal e Renata Giraldi*
Repórteres da Agência Brasil

Brasília – O sanfoneiro, compositor e cantor José Domingos de Morais, o Dominguinhos, de 72 anos, nasceu em Garanhuns, em Pernambuco, em 12 de fevereiro de 1941. No sangue, dizem os amigos, trazia o dom da música, pois seu pai, mestre Chicão, era famoso na região como tocador e afinador de foles. Ao longo da carreira, gravou 42 discos e teve como padrinho de sua carreira o Rei do Baião, Luiz Gonzaga, que conheceu ainda menino, aos 8 anos.
 
Com os irmãos, Moraes, na sanfona, e Valdomiro, na zabumba, Dominguinhos formou o trio Os Três Pinguins e tocou em feiras e hotéis de Pernambuco. Em uma das apresentações, conheceu Luiz Gonzaga, que lhe ofereceu dinheiro e deu seu endereço no Rio de Janeiro.

Em 1954, Dominguinhos foi para o Rio de Janeiro com o pai e os irmãos. Com o endereço em mãos, visitaram Gonzaga, que entregou a Chicão uma sanfona. Passou a frequentar a casa de Gonzaga e a cena artística do Rio.

Ainda no Rio, Dominguinhos conheceu a cantora Marinez, considerada por ele a maior cantora de baião de todos os tempos; o cantor Zito Borborema e o zabumbeiro Miudinho. Com os dois últimos, criou o Trio Nordestino, que tocou em circos e arrasta-pés no interior do estado.

Durante a longa carreira, de mais de 50 anos, Dominguinhos foi convidado para tocar com diversos artistas da música popular brasileira como Sivuca, Chico Buarque, Caetano Veloso, Gal Costa e Gilberto Gil.

Para Clodo Ferreira, amigo e compositor de diversas parcerias, o sanfoneiro foi um gênio musical. “Pouca gente no Brasil tem o talento de Dominguinhos. Ele é um modelo para os compositores brasileiros, principalmente os nordestinos”, diz em entrevista à Agência Brasil. Clodo lembra que Dominguinhos já tocava músicas nordestinas com seus irmãos quando conheceu Luiz Gonzaga.

Clodo conta que Querubim é a parceria mais querida que tem com Dominguinhos, que entrou de forma definitiva na música brasileira. “Ele compôs com Gilberto Gil, com Chico Buarque, Djavan. A qualquer gênero ele se adaptou muito bem. Ele foi um harmonizador avançado e criativo,” diz.

Para o maestro Marcos Farias, afilhado de batismo de Luiz Gonzaga, o sanfoneiro passou a ser o maior representante vivo da música nordestina, depois da morte do rei do Baião. “Foi ele quem botou o chapéu de couro na cabeça, a sanfona no peito e cantou com Gonzaga”, destacou em entrevista à Agência Brasil.

Farias lembra a amizade de Dominguinhos com Gonzagão. “Ele foi motorista de Gonzaga, apadrinhado dele e [participou da] maior parte dos discos de Gonzaga tocando sanfona. Quando o Gonzaga já estava nos derradeiros momentos, passou a coroa pra o Dominguinhos.”

Segundo Clodo, há cerca de seis anos o sanfoneiro se tratava de um câncer no pulmão, mas em momento algum parou de trabalhar. Dominguinhos foi internado na Unidade de Terapia Intensiva Coronariana do Hospital Santa Joana, no Recife, no dia 17 de dezembro, com um quadro de infecção respiratória e arritmia cardíaca. Depois, foi transferido, em janeiro, para o Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, onde morreu hoje (23) em decorrência de complicações infecciosas e cardíacas.

Dominguinhos foi vencedor do Grammy Latino em 2002, com o CD Chegando de Mansinho. Entre suas músicas mais conhecidas estão Eu Só Quero um Xodó, De Volta Para o Aconchego e Isso Aqui Tá Bom Demais.

Dominguinhos teve três filhos e era separado.

*Colaborou Gabriel Palma

Edição: Carolina Pimentel

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