Encontro de literatura reúne autores internacionais e escritores descobertos em comunidades do Rio

08/07/2013 - 21h34

Cristina Indio do Brasil
Repórter da Agência Brasil

Rio de Janeiro - A literatura juntou hoje (8) na Arena Carioca Dicró, na Penha, bairro da zona norte da capital fluminense, escritores que participaram, na semana passada, da 11ª Feira Literária Internacional de Paraty (Flip) e autores lançados pela Feira Literária Internacional das UPPs (unidades de Polícia Pacificadora).

O encontro, chamado de Flip-Flupp, promove mesas de debates para analisar a literatura e a política de livros no país. Os organizadores buscam também ampliar a participação do público nas palestras sobre a produção e acesso aos livros no Brasil. A 2ª Flip-Flupp começou hoje(8) e vai até amanhã.

Em uma palestra, para uma plateia em grande parte formada por alunos da rede pública municipal, o escritor irlandês John Banville, que participou da Flip, disse que chegou a ser pintor durante dois anos, mas abandonou porque entendeu que deveria expressar a sua arte de outra maneira. “Foi útil para definir as cores. Foi uma influência para o meu estilo de prosa”, declarou. “Fico preocupado por que se alguém usar isso para me chantagear, realmente, vai usar isso para me chantagear”, completou sorrindo.

O escritor declarou ainda que também trabalhou como revisor de um jornal, o que lhe deu experiência para a atividade de escritor. “Trabalhei com isso durante anos, e foi muito bom para me tornar um escritor. Ensinou-me muito a usar a linguagem correta. É bastante interessante por que você junta em um dia o número de palavras que precisa usar para escrever um livro”, disse.

No fim da palestra, alguns alunos pediram autógrafos e tiraram fotos com John Banville. Beatriz Souza, aluna na 9ª série da Escola Municipal Roraima, em Cordovil, subúrbio do Rio, foi um deles. A estudante contou que não tem hábito de ler muito, mas gosta de literatura. “Eu quis um autógrafo porque gostei dele. Agora acho que vou ler mais”, disse ressaltando a importância da feira como um incentivo para buscar mais a literatura.

A professora de português Teresinha Bonavita Pardelhas estava feliz por poder levar uma turma com 26 alunos à feira literária. Ela espera que, a partir de agora, os estudantes demonstrem mais interesse pela leitura. A professora destacou que na primeira mesa de debates encontrou alguns autores que moram em comunidades mais pobres do Rio. “Quem sabe daqui a alguns anos entre esses meus alunos não apareçam novos escritores?”.

O produtor cultural Júlio Ludemir, um dos idealizadores da Flip-Flupp, apontou avanços na primeira edição que ocorreu na comunidade do Cantagalo, zona sul do Rio. O escritor disse que este é um dos eventos que a Feira Literária Internacional das UPPs (Flupp) faz para desenvolver e descobrir os talentos nas comunidades.

Ludemir explicou que durante o ano ocorrem encontros nos fins de semana em diversas comunidades pobres do Rio. Em novembro do ano passado, houve uma festa para apresentar os autores que surgiram durante o ano. O escritor ficou satisfeito com a presença também de alunos na Flip-Flupp. “Ainda que estas pessoas aqui nunca mais voltem para um evento literário, ainda que achem isso uma chatice, elas não vão poder dizer para ninguém que não tiveram uma forma, uma oportunidade de entender o que é uma festa literária”.

Felizpe Frutose (nome artístico) tem 27 anos e é um dos 40 escritores que fazem parte da coletânea de autores de origem nas comunidades. Ele foi criado em Parada de Lucas, na zona norte da cidade, se formou em turismo, mas pretende seguir com a atividade de escritor. “Eu ainda não consigo viver da literatura, mas eu vou continuar. Já escrevi muitas poesias e agora estou trabalhando no meu primeiro romance”, disse.

 

Edição: Aécio Amado

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