Acompanhar tendências é o maior desafio dos cabeleireiros

14/02/2013 - 9h37

Carolina Sarres
Repórter da Agência Brasil

 

Brasília – Audilane Batista, 33 anos, é cabeleireira há 18 anos. Para manter-se atualizada ela faz, em média, um curso por ano de profissão. No currículo, ela já tem 18 cursos de especialização. Estar sempre por dentro das tendências, das técnicas e das preferências dos clientes é um dos grandes desafios de ser cabeleireiro.

No Distrito Federal, estima-se que haja mais de 15 mil profissionais nessa área, segundo o sindicato dos Salões e Institutos de Beleza, Barbeiros, Cabeleireiros e Profissionais Autônomos na Área de Beleza (Sincaab-DF). No DF, há aproximadamente 5,2 mil salões formalizados onde trabalham, em média, três profissionais.

“Eu comecei a trabalhar como uma brincadeira. Eu tinha 12 anos e arrumava o cabelo, maquiava e pintava a unha das minhas amigas. Com 18 anos eu fiz o meu primeiro curso em Natal (RN) e até hoje não parei. Faço cursos para me atualizar e conhecer as tendências. O mundo de cabeleireiro é não parar, porque se renova a cada dia. Acredito que, no futuro, só vai poder trabalhar quem tem curso superior”, disse Audilane.

De acordo com a cabeleireira, os cursos são importantes para profissionalizar tanto as pessoas que já atuam na área quanto as mais novas no ramo. Atualmente, a atuação dos profissionais em salões de beleza – entre eles cabeleireiros, maquiadores, depiladores, entre outros – é regulada pela Lei 12.592, que entrou em vigor em janeiro de 2012. De acordo com a legislação, no entanto, não há nenhum tipo de exigência quanto aos requisitos mínimos para o exercício dessas atividades – como um curso superior, ou mesmo um curso técnico, o que faz com que haja muita informalidade no setor e, consequentemente, falta de fiscalização e regulação.

A lei trata do reconhecimento das profissões que tem como função as atividades de higiene e embelezamento capilar, estético, facial e corporal. A regulamentação estabelece que devem ser respeitadas as normas sanitárias no que diz respeito aos instrumentos usados – como tesouras, navalhas e produtos químicos. A norma institui o Dia Nacional do Cabeleireiro, Barbeiro, Esteticista, Manicure, Pedicure, Depilador e Maquiador, comemorado em 18 de janeiro.

Para a presidenta do Sincaab-DF, Elaine Furtado, uma checagem em todos os salões em Brasília encontrará muitos profissionais sem habilitação para prestar todos os tipos de serviços.

“O setor é muito dinâmico. A cada dia há técnicas, produtos e tratamentos novos. Há uma carência muito grande de formação básica e conhecimentos mínimos”, informou Elaine.

A aposentada Lúcia Marcelino, 57 anos, tem o costume de ir ao salão uma vez por semana – pelo menos para fazer as unhas e hidratar o cabelo. Para cortar e retocar a tintura, ela vai de dois em dois meses. Lúcia estima que deve gastar com esses cuidados, pelo menos, R$ 500 por mês, cerca de R$ 6 mil por ano – sem considerar idas eventuais, para fazer maquiagem e penteados para festas, em que gasta, em média, R$ 300 por vez.

Ainda assim, a aposentada diz que não está completamente satisfeita com os serviços, apesar do valor que paga. “Só um ou dois profissionais na cidade sabem cortar o meu cabelo. Acabo sendo muito fiel e pago o preço que me cobram, pois tenho receio de ir em outro. Quando me arrisco, acabo não gostando e gasto muito mais para consertar o 'estrago'”, explicou Lúcia.

De acordo a presidenta do Sincaab-DF, Elaine Furtado, é importante que haja exigências mínimas para exercer as atividades em salões de beleza, como a comprovação de conclusão de curso em escola reconhecida. Em 2012, em uma única escola de Brasília foram formados 190 profissionais. O curso completo tem duração de três anos, com 10% da carga horária de aulas teóricas. No DF, cursos nessa área variam entre R$ 1,2 mil e R$ 5 mil.

“O argumento que usam para que não haja mais regulamentação é a ausência de danos à saúde. Mas isso é um erro. Há danos, sim. Além dos que podem ser causados à pele, como alergias e queimaduras, há os danos à autoestima. Os profissionais têm de estar preparados para saber que trabalham com a expectativa das pessoas. [Os cursos] têm de ser encarados como um investimento na vida profissional”, informou.

A Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Distrito Federal (Sebrae-DF) realizou em janeiro de 2012 um workshop para formar professores na área, com especialização em didática e transferência de conhecimento. Um entrave à capacitação desses profissionais e à existência de requisitos é a própria carência de instrutores.

“Hoje o professor não está interessado que o aluno aprenda só a fazer, mas que ele aprenda a conhecer com quem ele trabalha, o que ele precisa saber sobre cidadania, mercado de trabalho, sobre estar conectado com o mundo. O mercado nessa área cresce muito e, em contrapartida, há pouca formação consolidada. Isso precisa ser mudado”, explicou a professora da escola do Instituto de Beleza Hélio Diff, Rosélia Henrique.

 

Edição: José Romildo

 

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