Cerca de 70% dos pacientes com câncer de bexiga são fumantes, aponta pesquisa

04/02/2013 - 18h04

Fernanda Cruz
Repórter da Agência Brasil

São Paulo – Um levantamento feito entre pacientes atendidos pelo Instituto do Câncer de São Paulo (Icesp) mostrou que aproximadamente 70% dos casos de câncer de bexiga têm relação com o tabagismo. Os cerca de 1,75 mil pacientes com esse câncer ouvidos pelos médicos, de um total de 2,5 mil doentes, disseram que fumam ou já fumaram. O diagnóstico tardio é um problema da doença, que tem maior incidência entre trabalhadores químicos e motoristas.

De acordo com Marcos Dall' Oglio, coordenador da Urologia do Icesp, os agentes metabólicos do cigarro, que são inalados junto com a sua fumaça, irritam o delicado revestimento do aparelho urinário, chamado urotélio. “E esse fenômeno irritativo, causado por esses agentes do cigarro, no longo prazo, causa o câncer de bexiga”, explica o médico.

A pesquisa divulgada hoje (4), Dia Mundial do Combate ao Câncer, serve como alerta para mudança de hábitos como deixar o cigarro e manter atenção às alterações na saúde. Isso, segundo o médico, contribui para a detecção precoce do câncer de bexiga, uma vez que, quanto antes o problema é descoberto, maiores são as chances de cura.

Dall' Oglio esclarece que processos irritativos da bexiga, como infecção crônica, elevam os riscos do desenvolvimento do câncer. Entre os sintomas mais importantes estão a sensação de ardência e a vontade de urinar a toda hora.  De acordo com ele, “88% dos casos também apresentam sangue ao urinar”.

O levantamento revelou, também, que metade dos pacientes com câncer de bexiga iniciam o tratamento após um diagnóstico tardio. “Talvez, quando surgem os sintomas, a pessoa não procura assistência médica, porque acha que vai melhorar, ou talvez porque tenha tido dificuldade em fazer o diagnóstico”, disse Dall' Oglio.

Por apresentar sintomas semelhantes a de outras doenças, como infecção urinária, pedra na bexiga ou, em homens, uma próstata inchada, o câncer de bexiga pode ter o diagnóstico retardado. “Esses sintomas urinários podem ser motivo, às vezes, de confusão”, alerta.

O médico explica que pacientes do sexo masculino são os que sofrem mais com esse tipo de câncer – para cada mulher diagnosticada, existem três homens com o problema.

O levantamento mostrou ainda que há prevalência da doença em duas profissões: motorista e profissionais que lidam diretamente com produtos químicos. Suspeita-se que o alto número de motoristas com o câncer de bexiga tenha relação com a baixa frequência com que vão ao banheiro e também com a menor ingestão de líquidos.

No caso dos profissionais que lidam com produtos químicos, a exposição prolongada – há mais de dez anos – aumentam o risco de se desenvolver um tumor na bexiga. “Produtos a base de derivados do petróleo, como plásticos, elementos e produtos de limpeza, têm o papel de exercer um fenômeno irritativo sobre as vias urinárias”, disse. Esse contato, explica Dall' Oglio, ocorre por inalação ou manuseio, fazendo com que os derivados químicos sejam absorvidos pelo organismo.

O tratamento do câncer de bexiga, quando a doença é detectada no começo, é feito por meio de cirurgia por dentro do canal da urina, para retirada do tumor. “Isso quando o tumor é superficial, que não tem uma raiz mais profunda na musculatura da bexiga”, explica. Em caso contrário, o tratamento com maior chance de cura é uma cirurgia mais radical: “É retirar a bexiga ou fazer radioterapia”, disse o médico.

Edição: Davi Oliveira

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