Nações Unidas defendem ações ambiciosas para conter emissão de gases estufa

21/11/2012 - 18h56

Carolina Gonçalves
Repórter da Agência Brasil

Brasília - Esperar até 2020 para adotar ações ambiciosas visando a reduzir as emissões de gases de efeito estufa pode significar investimentos em tecnologias caras e desconhecidas e também alto custo para as populações que serão obrigadas a se submeter a regras mais rígidas. Esse é o recado do Pnuma, órgão das Nações Unidas responsável pelas questões de meio ambiente, divulgado hoje (21).

Para a entidade, ainda estamos longe de alcançar os níveis ideais de emissões para evitar maiores impactos provocados pelo aquecimento da Terra. Na avaliação do Pnuma, os governos precisam adotar imediatamente ações mais rigorosas envolvendo setores da economia para que a elevação da temperatura do planeta ocorra abaixo dos 2 graus Celsius (ºC).

"Em 2010, chegamos a 49 gigatones de emissões por ano. Para manter a trajetória [de elevação da temperatura abaixo dos 2 ºC] teríamos que reduzir pela metade as emissões mundiais, em 40 anos. É um esforço muito grande. É reduzir energia fóssil, quando na verdade está crescendo. Não se faz isso sem grandes inovações tecnológicas. Quanto mais cedo começarmos, mais se reduz as necessidades futuras", explicou o economista ambiental, Ronaldo Seroa.

O relatório anual do Pnuma - que poderá ser usado como referência nas negociações em torno das mudanças climáticas, marcadas para a próxima semana, no Catar - aponta que experiências adotadas por alguns países mostraram-se eficazes para diminuir as emissões de dióxido de carbono, por exemplo. Pela primeira vez, o levantamento, que é feito há três anos, indica casos bem-sucedidos em alguns países e podem ser adaptados para demais nações.

Seroa foi um dos oito pesquisadores brasileiros que acompanharam o levantamento do Pnuma, que teve a participação de 55 especialistas. Segundo o estudo, medidas de eficiência em setores como o de edificações, transporte e de redução do desmatamento teriam um forte impacto nos resultados esperados pelos países comprometidos em manter a elevação da temperatura abaixo dos 2ºC.

Pelas projeções definidas no documento do Pnuma, a lacuna entre o que se emite hoje, a projeção para 2020 e o nível ideal apontado pelos cientistas é 14 gigatones. Especialistas apontam que os investimentos nos setores prioritários poderiam significar uma redução para 8 gigatones de emissões por ano, nesse cálculo.

"O mundo está ciente que tem trabalho a fazer que é o acordo global de 2020 [Plataforma de Durban que envolverá compromissos de todos os países na redução de emissões]," lembrou Seroa.

Ate lá, o Brasil pretende alcançar a meta de reduzir as emissões entre 36% a 39%. Quase 70% delas vêm do desmatamento. "O relatório mostra que estamos cumprindo as metas. Na parte de agricultura, o Brasil ainda tem o Programa ABC [Agricultura de Baixo Carbono] que é bastante ousado. Os indicadores mostram que o Brasil está avançando", acrescentou.

Os resultados alcançados pelo governo brasileiro e pela Costa Rica na preservação de florestas, com o combate ao desmatamento e a criação de áreas protegidas, foram apontados pelo Pnuma como exemplares. Os países em desenvolvimento e as economias emergentes têm aguardado a definição de uma compensação internacional pelas ações de redução de emissões.

Segundo Jorge Hargrave, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Brasil e Costa Rica perceberam que as medidas já trazem benefícios locais. "Embora espera avanços [nas negociações em torno] do Redd [sigla, em inglês, de Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal] as ações foram tomadas independentemente. Foram os benefícios que os países enxergaram antes dessa compensação, como a questão da água e do uso de biodiversidade", avaliou.

No caso da Costa Rica, as áreas de proteção criadas pelo governo atraíram turistas para a região e mais dinheiro. "Com arranjo técnico você pode replicar isto para todos os países. O monitoramento [de florestas] é uma medida barata. É preciso comprometimento político e investimento nas áreas protegidas, principalmente em fronteiras agrícolas", destacou.

Hargrave lembrou que a preservação de florestas precisa caminhar junto com medidas de setores que impactam o meio ambiente. "Não adianta a ação do Ibama, se você oferece créditos subsidiados para expansão agrícola sem qualquer condicionante ambiental", ressaltou o pesquisador.

 

Edição: Carolina Pimentel