Após queda nos últimos anos, SP deve terminar 2012 com alta na taxa de homicídio

06/11/2012 - 20h10

Camila Maciel
Repórter da Agência Brasil

São Paulo – Após de redução das taxas de homicídio nos últimos anos, o estado de São Paulo deve fechar o ano com um índice maior do que o ano passado, segundo estimativa do Instituto Sou da Paz. De acordo com a organização, balanço da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, com dados do terceiro trimestre, aponta que o número de vítimas de assassinatos este ano ultrapassou os resultados dos primeiros nove meses do ano passado. Até setembro de 2012, foram registradas 3.536 mil mortes. No mesmo período de 2011, foram 3.225 mil assassinatos.

Segundo a diretora do Instituto Sou da Paz, Luciana Guimarães, somente seria possível manter índice menor ou igual ao do ano passado, caso houvesse uma redução gradativa a partir de agora no número de mortes. “A gente vê claramente que há tendência de ser maior. Nos últimos quatro meses, a gente vê variação de aumento mês a mês na taxa de homicídios [na comparação com os mesmos meses do ano passado]”, destacou, ao comentar os dados da sexta edição do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgado hoje (6) pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP).

O anuário mostra uma redução de 3,7% no número de assassinatos em São Paulo no ano passado em comparação a 2010. Foram 10,1 mortes para cada grupo de 100 mil habitantes. Em números absolutos, o total de assassinatos reduziu de 4.321 mil para 4.194 mil. No início da série, em 2006, a taxa era 18,21, tendo caído para 11,7 e 10,8 nos dois anos seguintes. A taxa apresentou leve aumento em 2009, quando passou para 11 mortes a cada 100 mil habitantes, mas voltou a reduzir no ano seguinte (2010), quando ficou em 10,5.

Para Guaracy Mingardi, especialista em segurança pública e membro da Comissão Nacional da Verdade, o estado poderia ser considerado um “caso de sucesso” em termos de segurança pública, mas somente até o final do ano passado. Dentre as razões para que os índices voltassem a subir, ele aponta “a guerra da polícia e do PCC [organização criminosa Primeiro Comando da Capital]”. “Até mesmo a secretaria de Segurança reconhece que existe algo nesse sentido,” disse.

Mingardi avalia que é preciso ações contínuas no campo da informação e da inteligência que envolvam, principalmente, a integração das polícias. “Não se pode achar que medidas pontuais vão resolver um problema mais grave. Daqui a dois, três dias pode acabar essa guerra surda. Entra-se em uma acomodação, mas nada impede que ela volte, como tivemos outras crises [de segurança pública] em 2002 e 2006”, destacou.

Luciana Guimarães também concorda que são necessários investimentos no setor de inteligência. “Enquanto a gente não tiver clareza de diagnóstico do que está acontecendo, fica difícil pensar o avanço. Informação e inteligência é o que a gente precisa neste momento”, ressalta. Para a diretora do Instituto Sou da Paz, esta é a principal ajuda que o governo federal deve conceder à administração estadual.

A professora Camila Nunes Dias, do Núcleo de Estudos sobre Violência da Universidade de São Paulo, avalia que o estado precisa de uma política pública de segurança pensada a médio e longo prazo. “São Paulo vive uma crise cíclica e quando esta passar não significa que o problema terminou. A própria dinâmica criminal da cidade, com a hegemonia de um grupo criminoso, que é o PCC, aponta para isso. [A crise] revela quão frágil é o alicerce da política de segurança que se anuncia como eficiente, pela redução das taxas de homicídios, mas que se mantém com uma estabilidade muito precária.”

Os governos federal e de São Paulo decidiram criar uma agência integrada de inteligência para combater o crime organizado no estado. A atual onda de violência em São Paulo resultou no assassinato de 90 policiais, segundo dados da Polícia Militar.

Edição: Carolina Pimentel