Guiné-Bissau acusa Portugal de tramar golpe de Estado

22/10/2012 - 21h20

Emerson Penha

Correspondente da EBC na África

 

Maputo (Moçambique) - O governo da Guiné-Bissau acusou Portugal e a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) de uma tentativa de golpe durante o último fim de semana. Uma base da força aérea próxima ao aeroporto da capital, Bissau, foi atacada por homens armados antes do amanhecer de domingo (21). Os militares reagiram. No tiroteio, uma sentinela do quartel e seis rebeldes morreram.

O governo bissau-guineense declarou que o atentado foi mais uma tentativa de golpe de estado no país, e denunciou que uma conspiração internacional pode estar por trás do ataque. Nações da CPLP estariam aliadas a Carlos Gomes Júnior, o ex-primeiro-ministro deposto no início deste ano, em outro golpe. Exilado na Costa do Marfim, ele estaria tramando a volta ao poder.

Segundo o atual governo de Bissau, a ação para derrubar o governo interino, no poder desde a queda de Gomes Júnior, teria o apoio de Angola, outra ex-colônia portuguesa, e também dos vizinhos Senegal e Gâmbia. Além disso, o governo de Portugal também estaria envolvido na trama. "Neste sentido, e daquilo que tem sido a tônica do discurso da CPLP, de Portugal e de Carlos Gomes Júnior, essa ação insere-se na estratégia de fazê-lo voltar, custem as vidas que custarem", disse Fernando Vaz, ministro das Comunicações da Guiné-Bissau.

O governo do pequeno país africano diz ter informações de que o capitão Pansau N'Tchama, que, em 2009, matou o presidente José Bernardo Vieira, teria recebido, nos últimos tempos, treinamento militar e dinheiro de Portugal para montar um grupo rebelde e restituir o poder a Carlos Gomes Júnior.

O governo português lamentou, em nota oficial, a gravidade da situação política na Guiné-Bissau, e declarou que Portugal não acredita em uma solução militar para a crise, mas nada disse sobre as acusações de participação na suposta tentativa de golpe. A Comunidade dos Países do Oeste da África (Ecowas) anunciou que pretende enviar uma força de paz de 600 soldados para ajudar na estabilização do país.

A CPLP, da qual o Brasil faz parte, também divulgou nota lamentando as mortes na Guiné-Bissau e condenou o uso recorrente da força militar no país. A comunidade que é apontada pelo governo de participar de uma conspiração golpista, pediu que Guiné-Bissau privilegie o diálogo político, para retornar à normalidade constitucional.

A Guiné-Bissau é a mais instável entre as ex-colônias portuguesas na África. Desde a independência, em 1974, nenhum presidente bissau-guineense conseguiu cumprir todo o mandato.

 

Edição: Aécio Amado