Rio precisa triplicar rede de atendimento ao usuário de crack, avalia especialista

21/10/2012 - 12h04

Vladimir Platonow
Repórter da Agência Brasil

Rio de Janeiro – A guerra contra o crack está longe de acabar e o país precisa pelo menos triplicar a rede de atendimento aos dependentes dessa droga, a fim de começar a reverter a situação. A avaliação foi feita pela psicanalista Ivone Ponczek, diretora do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Atenção ao Uso de Drogas (Nepad), ligado à Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj). Criada há 26 anos, a entidade atende a uma média de 200 usuários de drogas por mês, em regime de ambulatório, sem internação.

“É preciso mais do que dobrar. Teríamos que triplicar, multiplicar muito, com locais de internação bem equipados e equipes treinadas. Quase não há onde internar adolescentes aqui no Rio de Janeiro. É uma via crucis”.

Para a psicanalista, o problema ainda está no começo. “Estamos longe de vencer esta guerra. Faltam muitos recursos para internação e pessoal capacitado. Não adianta ficar jogando em abrigos se não tiver pessoal capacitado para atender. São pacientes muito difíceis, em uma situação muito grave, que precisam do olhar de uma equipe de saúde”, disse Ponczek.

A diretora explicou que eles têm uma situação social muito delicada. "São uma população de grande vulnerabilidade, com desamparo, solidão, falta de recursos. Isso acaba fazendo com que a pessoa tenda a utilizar algum tipo de droga, até para poder suportar essa situação, e acabe se degradando em grupo, por não ter vínculos familiares mais sólidos.”

A diretora do Nepad destacou a necessidade de abandonar a política de repressão aos usuários. “Temos que desconstruir a ideia punitiva. O tratamento é uma coisa boa e tem que ser feita por gente experiente. Não é uma questão policial, de repressão. É preciso saber muito bem quem tem de ser internado e quem não precisa de internação. Não se pode massificar o tratamento. Internação é para quem tem necessidades clínicas, está correndo risco de vida, perdeu completamente o controle da situação e para quem está colocando em risco a vida de terceiros. Os demais casos podem ser tratados em ambulatórios e centros de recuperação.”

A Secretaria Municipal de Assistência Social (Smas) informou que existem seis centros especializados de Atendimento à Dependência Química (Ceadq) voltados a crianças e adolescentes, com um total de 178 vagas. Esses centros estão localizados na zona oeste e ainda existe uma unidade de acolhimento no bairro de Laranjeiras, na zona sul.

Desde março de 2011, quando a secretaria iniciou ações sistemáticas de combate ao uso do crack, foram realizados 5.049 acolhimentos, sendo 4.379 de adultos e 690 de crianças e adolescentes. Os menores de idade têm o recolhimento compulsório para fazer o tratamento. Segundo a Smas, no último ano, 50% das crianças e adolescentes acolhidos não receberam uma única visita familiar.

Os adultos são levados para uma unidade de acolhimento da prefeitura no bairro de Paciência, na zona oeste, que tem 422 vagas. Como são maiores de idade, os usuários não são obrigados a ficar no local e a maioria acaba indo embora. Outras 116 vagas são disponibilizadas em unidades conveniadas, o que totaliza 538 locais para adultos.

Edição: Graça Adjuto