Eleição em Belo Horizonte é “termômetro” de disputa presidencial, para especialista

06/10/2012 - 16h54

Pedro Peduzzi
Enviado Especial

Belo Horizonte (MG) – As eleições municipais para a prefeitura de Belo Horizonte (BH) terão grande influência para o cenário das eleições presidenciais, na opinião do cientista político Fábio Wanderley Reis, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Para ele, a existência de “candidatos virtuais” à Presidência da República envolvidos com a disputa local “mostra claramente a importância que a cidade tem para o cenário de 2014".

“Sem dúvida, o que está acontecendo aqui em Belo Horizonte já é um termômetro das eleições majoritárias”, disse Reis à Agência Brasil. “Ainda é difícil mensurar o peso desta influência, mas é notório que há atores que são claramente candidatos virtuais, como o senador Aécio Neves, por enquanto o candidato mais óbvio, e a presidenta Dilma Rousseff. Isso mostra a importância das eleições municipais para o cenário nacional. Certamente a eleição presidencial também está sendo jogada na municipal”, disse o cientista político.

A presidenta Dilma Rousseff teve uma participação ativa na campanha do petista Patrus Ananias, ex-ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Dilma participou de seu programa eleitoral e, na última quarta-feira, do último comício realizado pelo petista. Já o senador Aécio Neves apoiou de perto o candidato do PSB à prefeitura da capital mineira Marcio Lacerda.

A avaliação do cientista político não é totalmente corroborada por parte dos sete candidatos que concorrem à prefeitura no pleito de domingo (7). “Dizer que estas eleições estão nacionalizadas é um exagero. Claro que causará reflexos na carreira política dos candidatos e na vida dos partidos. Mas é uma eleição municipal. Por isso não vamos discuti-la no âmbito nacional”, disse o candidato do PSB, Márcio Lacerda.

“Estamos fazendo uma campanha belo-horizontina. Claro que a cidade tem peso de grande dimensão para a política nacional, mas meu empenho está voltado às soluções necessárias para os problemas da nossa cidade, e 2014 será vivido no momento devido”, disse Patrus Ananias.

Para o professor Fábio Reis, as eleições para a capital mineira tem outra particularidade. “Aqui, tucanos e petistas são mais próximos do que no resto do país. Nesse cenário, o PSB de Márcio Lacerda tem emergido de forma significativa”, disse.

“O próprio Lacerda foi eleito para a prefeitura com o apoio de parte do PT e do PSDB. Por isso não haverá tantas diferenças caso um ou o outro ganhe. Há um compartilhamento de ideias e de perspectivas sociais comuns aos dois, assim como não há indisposição entre o Aécio e o ex-presidente Lula. Isso para não dizer que há, entre eles, uma certa proximidade”, argumentou o cientista político.

Além de Lacerda e Ananias, participam das eleições municipais outros cinco candidatos: Alfredo Flister (PHS), Maria da Consolação (PSOL), Vanessa Portugal (PSTU), Pedro Paulo Pepê (PCO) e Tadeu Martins (PPL).

“As eleições representam uma oportunidade para que passemos, diretamente à população, informações que nunca são abordadas pela grande mídia, na tentativa de formarmos senso crítico para o embate cotidiano para a luta de classes”, disse à Agência Brasil, o candidato do PCO, Pedro Paulo Pepê. “A conotação de nossa candidatura é mais ideológica do que eleitoreira, até porque o processo eleitoral já tem as cartas marcadas, na qual a imprensa burguesa, sob domínio das grandes oligarquias, propagandeia determinadas candidaturas”, acrescentou.

Para a candidata do PSTU, Vanessa Portugal, o objetivo maior da campanha “é discutir um projeto” para a cidade. “O problema aqui em BH é que parte das outras candidaturas apresentam um mesmo projeto: redução do Estado, no que se refere ao atendimento das necessidades básicas da população, e transferência desses recursos, em grande escala, para a iniciativa privada, por meio de terceirizações”, argumentou a candidata.

O candidato do PHS, Alfredo Flister defende um “enxugamento da máquina pública”. “A máquina já está inchada e precisa ser enxugada. Pelo menos 50% dos cargos de confiança precisam ser eliminados para que a prefeitura tenha mais caixa”, disse Flister que defende que os cargos públicos sejam ocupados exclusivamente por servidores concursados.

Já a candidata pelo PSOL, Maria da Consolação denuncia desperdício de dinheiro público com obras paradas e defende o financiamento público de campanha, um dos pontos da chamada reforma política, ainda sem aprovação no Congresso. “É por aí [obras paradas] que grande parte da receita da prefeitura de BH é desperdiçada”, disse à Agência Brasil. “Também aproveitamos a campanha para manifestarmos nossa posição a favor do financiamento público de campanha”, disse. “Este [obras paradas] é o início do problema. No final, somos nós que vamos pagar as contas mesmo, já que as campanhas acabam sendo financiadas pelo dinheiro público”, acrescentou.

O candidato Tadeu Martins (PPL) tem como bandeira a criação de um “Parlamento metropolitano” que seria uma espécie de órgão legislativo local reunindo 34 municípios. “Aproveitamos essas eleições para apresentar uma proposta de integrar, por meio da criação de um Parlamento metropolitano, toda a região metropolitana de Belo Horizonte”, disse o candidato Tadeu Martins (PPL). “Nossa campanha foi uma oportunidade para apresentarmos diretamente ao eleitorado a ideia de criar este Parlamento que, a princípio, seria composto por um vereador de cada cidade”, completou.

Edição: Luciana Lima