Atualizada - José Roberto Salgado não participou de empréstimos do Banco Rural, diz advogado

08/08/2012 - 16h43

Débora Zampier
Repórter da Agência Brasil

Brasília – O ex-dirigente do Banco Rural José Roberto Salgado não teve participação nos empréstimos às empresas de Marcos Valério e nem ao PT, segundo argumentou hoje (8) o advogado Márcio Thomaz Bastos no Supremo Tribunal Federal (STF).

Salgado é acusado de participar do chamado núcleo financeiro do mensalão, viabilizando empréstimos fraudulentos para esconder a origem e o destino ilícito do dinheiro. Salgado responde pelos crimes de formação de quadrilha, lavagem de dinheiro, gestão fraudulenta e evasão de divisas.

De acordo com Thomaz Bastos, na época dos três empréstimos, tomados em 2003, Salgado ocupava cargo na área internacional do banco e só passou a atuar diretamente no setor de concessão de créditos em 2004. Ele informou que a pessoa responsável pelas operações em 2003 era o então vice-presidente José Augusto Dumont, que morreu em um acidente de carro em 2004.

Thomaz Bastos disse que o único papel de seu cliente foi renegociar a dívida com as empresas de Valério, sem colocar dinheiro novo. O advogado informou que as dívidas do empresário ainda não foram pagas porque as agências de publicidade de Marcos Valério faliram assim que o mensalão veio à tona. A dívida de R$ 10 milhões do PT, segundo Thomaz Bastos, foi quitada, enquanto as dívidas de Valério estão sendo executadas na Justiça.

O advogado dedicou grande parte da defesa, que durou cerca de 50 minutos, para desqualificar o depoimento do ex-superintendente do Banco Rural Carlos Godinho, classificado por ele como uma testemunha “suplente, ressentida, que prestou falso testemunho”. O depoimento de Godinho é uma das principais provas usadas pelo Ministério Público Federal (MPF) para implicar Salgado no mensalão.

Para Thomaz Bastos, o ex-funcionário adotou a estratégia de atacar Salgado para que sua conduta não fosse investigada, pois ele próprio falsificou um documento do banco. “Nenhuma testemunha mencionou Salgado, apenas Godinho, que traz uma série de intrigas, de fofocas, de entendimentos errados”.

A legalidade dos empréstimos concedidos pelo banco também foram atestadas por Thomaz Bastos, para quem a alegação de simulação da operação é uma “criação mental do Ministério Público”. Ele disse que as agências de publicidade de Valério pegavam créditos no Banco Rural desde 1998 e que sempre foram boas pagadoras.

O advogado alega ainda que o MPF não foi claro quanto ao que seu cliente fazia no mensalão e o que pretendia com sua participação no esquema. “O fato de Salgado ser responsável por uma instituição financeira não quer dizer que ele é responsável pelos delitos cometidos no âmbito dela”.

De acordo com a denúncia, o Banco Rural estava interessado em se aproximar do governo para sair em vantagem na liquidação do Banco Mercantil de Pernambuco. Thomaz Bastos disse hoje que, após a liquidação da instituição financeira em 2012, o banco recebeu a quantia de R$ 96 milhões. Já o MPF, na denúncia apresentada, diz que o banco pretendia receber R$ 1 bilhão depois da liquidação. “Dar R$ 32 milhões [de empréstimos] para receber R$ 1 bilhão é um bom negócio, mas só na loteria esportiva”, ironizou o advogado.

Thomaz Bastos disse que os 65 saques em espécie nas agências do Banco Rural – o que, segundo a denúncia, abastecia o esquema do mensalão – seguiram as normas do Banco Central vigentes à época.
 

Edição: Lana Cristina//A matéria foi ampliada às 16h41