Influência do Programa Saúde da Família na melhoria dos indicadores no país é tema de debate no Rio

26/07/2012 - 21h35

Flávia Villela
Repórter da Agência Brasil

Rio de Janeiro – A expansão da atenção primária por meio das unidades básicas de Saúde tem sido a principal responsável pela melhora nos indicadores de saúde no Brasil. A constatação vem de uma série de estudos realizados ao longo dos últimos anos, a partir da criação do Programa Saúde da Família (PSF) em 1994, para garantir o acesso gratuito da população a uma assistência integral, por uma equipe multidiciplinar perto de casa, como estratégia de prevenção de doenças e a manutenção de saúde.

Esse e outros assuntos fazem parte da agenda do 3º Congresso da Associação de Medicina de Família e Comunidade do Estado do Rio de Janeiro, que termina sábado (28), em Petrópolis.

A presidente do congresso, a médica Andréa Castro, destacou a posição brasileira no cenário mundial no que diz respeito ao atendimento primário na área de saúde. “O Brasil tem o reconhecimento internacional, inclusive pela Organização Mundial da Saúde, devido aos benefícios dessa estratégia [PFS]”, disse. Ela citou indicadores em que o país tem tido avanços devido a programas como o PSF, entre eles a redução da mortalidade infantil, da mortalidade materna, das mortes por insuficiência cardíaca e a maior detecção precoce de câncer, como os de útero e de mama.

“A expansão dessa estratégia tem elevado a qualidade de vida dos brasileiros, sobretudo dos mais pobres, e tem aumentado o nível de satisfação da população”, observou Andréa Castro.

Ela ressaltou que esse tipo de assistência médica gera economia aos cofres públicos, pois contribui para o uso mais racional de medicamentos, previne doenças que podem ocasionar tratamentos ou internações e cirurgias bem mais onerosas ao Sistema Único de Saúde (SUS).

Um dos problemas encontrados para garantir a atenção primária no atendimento médico, conforme tem sido discutido no encontro, é a dificuldade de conseguir a permanência dos médicos nas comunidades onde atuam para que conheçam o histórico de cada paciente e, assim, eles possam oferecer um tratamento mais adequado. “Aquela dor no peito da dona Maria pode estar associada a uma mãe acamada, um filho envolvido com drogas, um problema familiar. O médico de família que acompanha essa paciente vai saber disso. Essa peculiaridade da aproximação do médico de família permite uma melhor atuação do profissional”, avaliou a presidente do congresso.

Para a médica Claunara Shilling de Mendonça, que apresentou no encontro um estudo sobre os impactos da estratégia PSF na saúde dos brasileiros, a não fixação do médico na comunidade está relacionada, principalmente, à falta de médicos especializados no atendimento da saúde da família e de comunidades, nas equipes do PSF. “Das cerca de 32 mil equipes no Brasil, menos de 2 mil devem contar com esses profissionais especializados em medicina de família e comunidade, que entendem a importância da longitudinalidade do atendimento [permanência em uma única comunidade durante muitos anos]”, revelou.

Ainda de acordo com Claunara de Mendonça, por ser uma área relativamente nova e pouco valorizada, em muitos lugares, os vínculos de trabalho são precários, as condições de trabalho são ruins e faltam investimentos na formação desses profissionais, bem como uma boa política de cargos e salários, com perspectivas de crescimento na carreira.

Ela, que foi diretora do Departamento de Atenção Básica (DAB) do Ministério da Saúde até 2010, lembrou que a expansão do acesso à assistência básica ainda é um dos maiores desafios dessa política de Estado, apesar do aumento significativo de clínicas da família pelo país nos últimos cinco anos. “Algumas cidades brasileiras ainda não estão cobertas pelo Saúde da Família, principalmente nos municípios maiores. Esse é um desafio permanente. Além disso, precisamos do acesso com qualidade, que vai desde à estrutura física ao acesso a exames, remédios e profissionais adequados”.

Edição: Lana Cristina