Para lembrar Dia Mundial do Refugiado, Acnur distribui bicicletas e espera inserção social

03/06/2012 - 14h29

Débora Zampier
Repórter da Agência Brasil  


Brasília – O paquistanês Mufarrih Shah sempre andou de carro em seu país natal, mas agora exibe orgulhoso o novo meio de transporte que usará em Brasília: a bicicleta. Shah faz parte do grupo de cerca de 30 refugiados que foram homenageados hoje (3) na capital federal em comemoração ao Dia Mundial do Refugiado. No evento, organizado pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur), eles receberam bicicletas gratuitamente para se integrarem ainda mais à sociedade.

Shah deixou o Paquistão há nove meses com um grupo de quatro homens para fugir da perseguição religiosa e dos atos de terrorismo promovidos pelo grupo extremista islâmico Talibã. Arranhando o português, ele já consegue explicar porque escolheu o país para morar: “Eu gosto de respeito e de segurança, e o Brasil é o melhor lugar para isso”. Com a bicicleta nas mãos, o farmacêutico diz que poderá chegar ao trabalho em uma grande empresa frigorífica mais rapidamente. “Me sinto um brasileiro, aqui as pessoas se preocupam comigo.”  

O Brasil tem hoje quase 4,5 mil refugiados, segundo dados do Ministério da Justiça. A grande maioria veio da África (63,7%), mas também há americanos (23,12%), asiáticos (10,9%) e europeus (2,17%). “O Brasil tem tradição de receber muito bem os refugiados, por isso muitos têm optado por vir para cá. Além da  legislação moderna sobre o tema, o Brasil é pacífico e tem uma cultura de respeito por religiões e etnias”, explica o representante do Acnur no Brasil, Andrés Ramirez.

A comemoração do Dia do Refugiado, originalmente no dia 20 de junho, está sendo antecipada em várias capitais brasileiras devido à conferência Rio+20, que estará sendo realizada no Rio de Janeiro. Em Brasília, o evento coincidiu com o 10º Passeio Ciclístico da organização não governamental Rodas da Paz, que doou as bicicletas para os refugiados. “A bicicleta é um tema que integra o tema dos refugiados, de como eles podem se inserir na sociedade brasileira em uma cultura de paz”, ressalta Ramirez, da Acnur.

Paz era uma realidade distante do congolês M., que deixou a África em março do ano passado para morar no Brasil. “Lá só tem morte e guerra, e o Brasil é um país tranquilo que aceita todo mundo sem distinção”, explicou o refugiado, que preferiu não se identificar com medo de represálias à sua família. Os conflitos étnicos na República Democrática no Congo duram décadas e já deixaram mais de 4 milhões de mortos.
 
Pai de quatro filhos – dois meninos e duas meninas – o refugiado congolês conseguiu regularizar seus documentos recentemente e explica que agora tem dois objetivos: trazer a família para o Brasil e validar seu diploma de enfermeiro. Enquanto os planos não se concretizam, ele se diz feliz com o trabalho de faxineiro e com a bicicleta que acabou de ganhar, enquanto ensaia as primeiras pedaladas.

No Brasil, o Dia Mundial do Refugiado em 2012 será comemorado durante a segunda quinzena de junho em Porto Alegre, Manaus, São Paulo e Rio de Janeiro. Segundo a Acnur, haverá seminários e manifestações culturais, mas sem distribuição de bicicletas.

 

 

Edição: Lílian Beraldo