Direitos humanos e dos territórios e soberania alimentar são temas prioritários para a Cúpula dos Povos, na Rio+20

19/03/2012 - 20h13

Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil

Rio de Janeiro - O Comitê Facilitador da Cúpula dos Povos definiu hoje (19) as principais questões que serão abordadas no evento paralelo à Conferência das Nações Unidas (ONU) sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, em junho próximo, após rodada de encontros de trabalho nesse fim de semana, no Rio de Janeiro, da qual participaram cerca de 60 pessoas de 20 países.

Graciela Rodrigues, do Comitê Facilitador, destacou os direitos humanos, das populações e dos territórios, além do mundo do trabalho em suas diversas formas e dimensões. A agricultura familiar, a soberania alimentar e a produção dos alimentos também terão prioridade no evento. “Nós queremos discutir as soluções que os povos têm para viver de forma harmoniosa com a natureza e entre as próprias populações”.

No seminário internacional, que prossegue amanhã (20) e reúne organizações sociais do Brasil e do exterior, os participantes estão concluindo os temas de discussão e a forma como serão feitos os debates durante a Rio+20. “Nós queremos pensar nas questões que fazem a sustentabilidade da vida no planeta, a extrema mercantilização dos bens, a financeirização – tudo passa pelos bancos, pelos grandes capitais, não temos mais oportunidade, inclusive, de políticas nacionais com certa autonomia”, disse Graciela.

Ela também destacou a necessidade de os debates envolverem temas considerados fundamentais pelas organizações para a sustentabilidade no planeta, que tratam dos direitos humanos, das mulheres, das populações negras, ribeirinhas, quilombolas, povos tradicionais e indígenas, população das cidades e do campo. “Ou seja, o conjunto da população do mundo que está sendo ameaçada por um capital sem nenhum controle ou limite e que está contaminando e colocando nas costas dos trabalhadores a perspectiva de lucro sem medida”.

Graciela Rodrigues considerou que o grau de concentração da riqueza é insustentável para uma vida digna dos povos do mundo. “Esse modelo produtivo, que chamam de desenvolvimento, não nos serve. Nós queremos outras formas mais ligadas com respeito à natureza e aos seres humanos, um modelo que não envenene a terra e que não dê falsas soluções, que estão sendo discutidas no processo das Nações Unidas”.

A Cúpula dos Povos pretende mostrar soluções que vêm sendo dadas pelas populações por meio da economia solidária, da agricultura familiar, das cooperativas e pequenas empresas. “Enfim, formas que dão emprego, produtos que criam bem-estar e não uma produção que tem a perspectiva do lucro e a concentração da riqueza”.

Graciela denunciou que o modelo capitalista está procurando a revitalização após a crise que vem sofrendo desde 2008, “à custa da população mais pobre, dos trabalhadores, dos direitos adquiridos, como está ocorrendo na Europa”. Ela analisou que a economia verde, um dos temas centrais da agenda oficial da Rio+20, é apenas uma “maquiagem” do sistema capitalista, para tentar encontrar uma forma de ganhar ainda mais com o sistema produtivo, ao mesmo tempo que busca saídas para a crise energética que o mundo vive. Os beneficiados com isso seriam, segundo Graciela, são as multinacionais que vendem serviços ambientais.

Sobre outro tema da conferência da ONU, que é a governança global, a representante do Comitê Facilitador externou a preocupação do comitê em relação aos acordos ambientais, que “já não vêm sendo cumpridos desde a Rio 92, podem ser renovados agora e voltarão a ter um novo formato de governança global”.

Ela denunciou, ainda, que a governança global está concentrada, no momento, na mão de poucos países que integram o grupo das 20 nações mais ricas do planeta, que “não têm legitimidade para governar o mundo, porque não têm o conjunto das opiniões”.

 

Edição: Aécio Amado