Distorções de normas podem atrapalhar sucesso da logística reversa no Brasil, avalia especialista

17/03/2012 - 15h32

Carolina Gonçalves

Repórter da Agência Brasil

 

Brasília - O sucesso da logística reversa no Brasil que, de acordo com a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), deve estar implantada até 2015, pode esbarrar nas distorções das normas, segundo avaliação do economista Sabetai Calderoni, que preside o Instituto Brasil Ambiente e o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Sustentável.

O especialista em economia ambiental alerta para pontos que definiu como equivocados, como o tratamento previsto para pilhas, baterias e material eletrônico. Neste caso, segundo Calderoni, a política determina que a indústria recicle 100% do material utilizado, devolvido pelo comércio. Uma meta, na avaliação dele, difícil de ser monitorada. “Ninguém vai controlar quanto o consumidor mandou para o comércio e quanto o comércio mandou para a indústria. É uma falsa meta. É uma forma de burlar a intenção da lei”, disse o economista.

Calderoni, no entanto, cita pontos positivos. A determinação de procedimentos sobre pneus é um exemplo que pode garantir o sucesso da medida. Pela proposta, a indústria teria que reciclar cinco pneus, a cada quatro que produzir. “Ou seja, vai reciclar os quatro que produziu e mais um que estava no estoque, acumulado por um período anterior à existência da lei”, disse.

O economista acredita que a resposta dos consumidores a estímulos econômicos pode ser um das soluções para o sucesso na aplicação da logística reversa. A ideia é reproduzir incentivos como o praticado há anos no caso de garrafas de bebidas. “Se eu disser que uma pilha nova fica mais barata, se você levar e entregar a pilha velha, as pessoas vão se interessar em levar a pilha e não jogar fora. A mesma coisa com a lâmpada, o computador, celular e as baterias em geral. E não precisa custar mais caro para a indústria, que pode aumentar o preço um pouco para quem não faz a entrega”, explicou.

Pelas contas de Calderoni, o custo não seria maior nem no caso do transporte desse material utilizado, já que as fábricas poderiam usar o mesmo veículo que leva a mercadoria nova para o comércio para recolher o produto descartado. A reciclagem desses produtos exige um investimento em processamento do material. Mas, pela avaliação do economista, esse custo seria compensado com a energia ou com a matéria-prima que essa reciclagem pode trazer para os fabricantes.

“Se no final da conta [o fabricante] tiver prejuízo, é responsabilidade de quem produziu. Ele tem que começar a fazer a conta. O produtor não pode privatizar lucros e socializar perdas para o meio ambiente e para as pessoas e não arcar com os custos disso”, disse.

 

Edição: Aécio Amado