Compra de veículos e despesas de início de ano aumentaram a inadimplência diz BC

28/02/2012 - 19h12

Wellton Máximo
Repórter da Agência Brasil

Brasília – A elevação da inadimplência das pessoas físicas em janeiro está relacionada principalmente a despesas típicas de início de ano e foi influenciada por excessos cometidos pelos consumidores na compra de veículos, disse hoje (28) o chefe do Departamento Econômico do Banco Central (BC), Tulio Maciel. Segundo ele, a perspectiva é que os atrasos nos pagamentos parem de crescer nos próximos meses.

“O mercado de trabalho está bom, a inflação está caindo e as instituições financeiras estão mais criteriosas na hora de concederem crédito. Isso certamente vai se refletir em taxas menores daqui para a frente”, disse Maciel.

O chefe de departamento do BC também destacou que a concentração de pagamentos no início de ano, como impostos, matrículas escolares e gastos com férias deixa os correntistas com menos recursos. “O início de ano traz pressão sobre as despesas que às vezes resulta em atrasos nos pagamentos”.

Dados divulgados hoje pelo BC revelam que a inadimplência das pessoas físicas atingiu 7,6% em janeiro, no maior nível desde dezembro de 2009 (7,7%). Para Maciel, boa parte do crescimento do calote tem origem em consumidores que financiaram veículos no fim de 2010 e início de 2011 e foram surpreendidos pelas medidas de contenção do crédito anunciadas na época.

“As medidas macroprudenciais tiveram impacto exatamente nesse segmento. As modalidades [de financiamentos] de prazos mais longos ficaram mais onerosas e afetaram esses consumidores”, explicou Maciel. Ele destacou que os empréstimos para a compra de automóveis cresceram 49% em 2010 e 23% em 2011. “Esse ciclo de crédito se reflete nas taxas de inadimplência”.

No mês passado, a taxa de inadimplência – definida pelo BC como atrasos superiores a 90 dias – nos financiamentos de veículos atingiu 8,1%. Outras modalidades de crédito a pessoas físicas, no entanto, registraram taxas maiores. Na aquisição de outros bens (exceto automóveis), a taxa correspondeu a 14% em janeiro, ante 13,9% em dezembro.

Na avaliação do chefe de departamento do BC, a inadimplência representa o principal obstáculo para a queda do spread bancário (diferença entre os juros que os bancos pagam para captar recursos de clientes e as taxas cobradas nos empréstimos e financiamentos). “Dada a resistência de a inadimplência recuar, esse é um fator que se apresenta preponderante neste momento para a manutenção dos spreads”.

Em janeiro, a média do spread bancário embutido nas operações de crédito subiu para 27,8% ao ano, interrompendo uma trajetória de queda que se verificava desde novembro. Para as pessoas físicas, o indicador aumentou de 33,7% ao ano em dezembro para 34,9% ao ano no mês passado. Para as empresas, a elevação passou de 17,9% ao ano para 18,5%.
 

Edição: Rivadavia Severo