Polícia ainda não tem pistas dos assassinos de jornalista morto em Mato Grosso do Sul

23/02/2012 - 14h17

Alex Rodrigues
Repórter Agência Brasil

Brasília - Responsável por investigar o assassinato do jornalista Paulo Rocaro, o delegado Odorico Ribeiro de Mendonça disse aguardar a relação das últimas chamadas telefônicas feitas e recebidas pela vítima, morta a tiros no último dia 12, em Ponta Porã (MS).

O pedido de quebra do sigilo telefônico do jornalista foi feito à Justiça na última sexta-feira (17). Segundo o delegado, saber se Rocaro teve conversas frequentes com alguém além dos parentes, amigos e colegas de trabalho que já prestaram depoimento pode ajudar a polícia a elucidar o crime. Após dez dias de investigações, Mendonça disse à Agência Brasil ainda não ter indícios concretos sobre os criminosos.

“As investigações não pararam por um só dia, mas ainda não há nada de concreto”, informou o delegado, que reiterou trabalhar com a hipótese de se tratar de um crime de pistolagem, encomendado por razões ainda a serem esclarecidas.

“É uma investigação complexa. Nenhum dos depoentes disse ter ouvido do jornalista qualquer menção a possíveis ameaças. Por isso, os dados telefônicos são importantes. As chamadas poderão indicar alguém mais com quem a vítima estivesse conversando frequentemente nos últimos dias”, explicou Mendonça.

O delegado também aguarda o resultado do exame de balística realizado na arma apreendida com um paraguaio preso no último dia 16, na cidade de Coronel Sapucaia (MS), na fronteira com o Paraguai. Acusado de cometer diversos crimes e de trabalhar para o narcotraficante paraguaio conhecido como Barão da Maconha, quando foi preso, o homem portava uma pistola 9 milímetros, o mesmo tipo de arma usada no assassinato de Rocaro.

“O criminoso detido é conhecido por atuar em uma área distante de Ponta Porã e nega ter estado na cidade [onde Rocaro foi morto]. De qualquer forma, a hipótese [de participação do paraguaio no crime] não está descartada. Vamos comparar os resultados dos exames de balística”, disse o delegado, revelando que as imagens registradas por câmeras de segurança instaladas próximas ao local do crime não permitem identificar os motoqueiros que fizeram os disparos, mas poderão ser usadas para reforçar a acusação quando os criminosos forem identificados.

Mendonça descartou a hipótese de as investigações serem transferidas para a esfera federal. “Isso seria ilegal, pois a Polícia Federal não tem competência constitucional para isso. O trabalho vem sendo feito, inclusive com o apoio da Delegacia Especial de Homicídios, de Campo Grande. Óbvio que qualquer auxílio é sempre bem-vindo”, disse o delegado.

Filiado ao PT de Ponta Porã (MS), Rocaro havia participado de uma reunião política e voltava para sua casa quando, no final da noite do dia 11, foi alvejado por dois motoqueiros que dispararam ao menos 12 vezes contra seu carro e fugiram sem levar nada. O crime ocorreu em uma avenida do centro da cidade. Atingido por vários tiros de pistola calibre 9 milímetros, o jornalista foi levado para o hospital mais próximo, mas não resistiu aos ferimentos.

Além de fundador do site Mercosulnews, Rocaro era editor-chefe do Jornal da Praça, em que trabalhava há quase 30 anos, e publicou três livros, entre eles um com denúncias sobre a atuação de grupos de extermínio na fronteira Brasil-Paraguai.

Rocaro foi o segundo jornalista brasileiro morto este mês. Quatro dias antes, o jornalista Mario Randolfo Marques Lopes e a companheira dele, Maria Aparecida Guimarães, foram mortos na cidade fluminense de Barra do Piraí (RJ). Entidades profissionais e de defesa dos direitos humanos, como a Sociedade Interamericana de Imprensa e a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), condenaram os assassinatos e cobraram medidas para garantir a segurança dos profissionais da área. Um terceiro jornalista já havia sido morto em janeiro. Funcionário da Rádio Sucesso, de Camaçari, na região metropolitana de Salvador (BA), Laércio de Souza, de 40 anos, foi morto a tiros.

No último sábado (18), a ministra Maria do Rosário, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, referiu-se às mortes dos dois jornalistas como “crimes de extermínio” e cobrou do Congresso Nacional a aprovação da proposta que transfere à esfera federal a investigação e o julgamento dos crimes cometidos por milícias ou grupos de extermínio.

Edição: Juliana Andrade