OEA repudia morte de jornalista no Rio, um dos dois que foram mortos em apenas quatro dias

14/02/2012 - 11h55

Alex Rodrigues
Repórter Agência Brasil

Brasília - Entidade autônoma de proteção e promoção dos direitos humanos nas Américas, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), vinculada à Organização dos Estados Americanos (OEA), condenou o assassinato do jornalista Mario Randolfo Marques Lopes e da mulher dele, Maria Aparecida Guimarães.

Lopes, de 50 anos, e Maria Aparecida, foram executados na madrugada da última quinta-feira (9), após serem levados da casa dela, no município de Barra do Piraí, no Rio de Janeiro, por homens armados. Os corpos foram encontrados horas depois. Lopes era editor do site Vassouras Na Net, com sede na cidade de Vassouras (RJ). O jornalista se tornou conhecido ao criticar e denunciar supostas irregularidades as quais atribuía a servidores públicos da região. Segundo a comissão, Lopes já havia sofrido um primeiro ataque em julho de 2011, ocasião em que foi alvo de disparos de arma de fogo.

Na nota divulgada na noite de ontem (13), a Relatoria Especial para a Liberdade de Expressão da CIDH pede a autoridades brasileiras investigações “rápidas e diligentes”, a fim de esclarecer o motivo do crime, identificar e punir adequadamente os responsáveis, além de compensar de maneira justa os parentes das vítimas.

A entidade destaca que, de acordo com a Declaração de Princípios sobre a Liberdade de Expressão da CIDH, o assassinato, sequestro, a intimidação, ameaça aos comunicadores sociais e a destruição material dos meios de comunicação constituem violações aos direitos fundamentais das pessoas, como a liberdade de expressão.

A cobrança de medidas que possam prevenir casos semelhantes foi divulgada horas após a morte de outro jornalista, o segundo a ser morto em apenas quatro dias no Brasil. Paulo Roberto Cardoso Rodrigues, de 51 anos, foi atacado por volta das 23h30 de domingo (12), em uma movimentada avenida do centro de Ponta Porã, em Mato Grosso do Sul, a 326 quilômetros da capital Campo Grande, e separada por apenas uma rua do município paraguaio de Pedro Juan Caballero.

Conhecido como Paulo Rocaro, o jornalista foi ferido por dois motociclistas que dispararam 12 tiros contra o carro dele e fugiram sem levar nada. Atingido por ao menos cinco tiros, o jornalista não resistiu aos ferimentos e morreu por volta das 5h30 de ontem (13).

Além de fundador do site Mercosulnews, Rocaro era editor-chefe do Jornal da Praça, onde trabalhava há quase 30 anos. Documentos da Vara do Trabalho de Ponta Porã e da Justiça Federal, mostram que, pelo menos até recentemente, Fahd Jamil estava entre os acionistas do jornal. Conhecido como o Rei da Fronteira, em 2005, Jamil foi condenado a 20 anos de prisão por tráfico internacional de drogas. Desde então, ele está foragido, embora tenha sido inocentado da acusação em 2009. Em 2007, a 3ª Vara Federal Criminal de Campo Grande o condenou a 12 anos e seis meses de prisão por sonegação fiscal, pena depois revista para dez anos e seis meses.

O morte de Rocaro está sendo apurada pela 1ª Delegacia Policial de Ponta Porã. Ontem (13), o delegado Clemir Vieira Júnior disse à Agência Brasil que o crime tem características de ter sido encomendado, mas que, inicialmente, não via ligação com o fato de o jornal em que Rocaro trabalhava já ter pertencido a Jamil. Ainda assim, diz que nenhuma hipótese será descartada.

Rocaro também publicou três livros. Entre eles, um sobre a história do sindicalismo rural na área de fronteira com o Paraguai e outro, o de maior repercussão, A Tempestade, com denúncias sobre a atuação de grupos de extermínio na região. A polícia também não descarta a hipótese de o atentado estar relacionado à publicação.

Desde ontem, a reportagem tenta ouvir os responsáveis pelo site Mercosulnews e pelo Jornal da Praça, mas não houve retorno. A família de Rocaro preferiu não comentar o caso.

Edição: Talita Cavalcante