Brasil exerce papel de relevância no mundo árabe, diz professor

30/01/2012 - 6h29

Renata Giraldi
Repórter da Agência Brasil

Brasília – Há mais de um ano eclodiram vários protestos no mundo muçulmano, instaurando uma crise na região, que começou na Tunísia e depois se estendeu a outras regiões. Para os especialistas, os conflitos estão concentrados atualmente na Síria, Líbia, no Egito, Iêmen e Bahrein. Nesse cenário, o Brasil passou a ocupar um papel de relevância, principalmente por causa do comércio mantido com esses países.

Para o professor Murilo Sebe Bon Meihy, do Departamento de História da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro, a relação do Brasil com os países muçulmanos cresce a cada década e torna o papel do governo brasileiro fundamental. “O Brasil vem construindo uma relação que já rendeu muitos frutos desde os governos militares e principalmente depois dos anos 1980”, disse ele à Agência Brasil.
  
Meihy destacou o fato de o Brasil ser um dos observadores da Liga Árabe (formada por 22 nações) e não pertencer ao chamado mundo árabe. “Essa é uma indicação de relevância do Brasil para os países da região”, acrescentou. “O Brasil costura muito bem essas alianças na região a partir do momento em que respeita as peculiaridades e também administra tensões.”

Para o professor e emissário do Brasil para o Oriente Médio mais a Turquia e o Irã, o embaixador Cesário Melantonio Neto, os cinco países que devem ser observados de maneira mais atenta pela comunidade internacional são a Síria, Líbia, o Egito, Iêmen e Bahrein. A seguir, o detalhamento da  situação em cada um desses países.

Na Síria, há dez meses o governo do presidente Bashar Al Assad é alvo de protestos generalizados. Assad está no poder há 11 anos, assumindo o governo após a morte do pai Hafez Al Assad, que foi eleito presidente para cinco mandatos consecutivos. Ele é acusado de ações de desrespeito à democracia e violações aos direitos humanos. As Nações Unidas estimam que cerca de 5 mil pessoas morreram no país em decorrência dos confrontos.  

A Líbia, depois de viver a mais longa ditadura que há no mundo com o presidente Muammar Al Khadafi, que ficou 41 anos no governo, é comandada pelo Conselho Nacional de Transição (CNT). Os dirigentes do órgão são acusados de manter a mesma estrutura política, econômica e social de Khadafi – morto em outubro de 2011. O clima de tensão é constante no país.

No Egito, após a renúncia do presidente Hosni Mubarak, que ficou quase três décadas no poder, instaurou-se uma nova fase política após 18 dias de intensos protestos. Uma Junta Militar governa a região e houve eleições parlamentares, garantindo maioria para os partidos muçulmanos. Nas ruas, os manifestantes mantêm os protestos, exigindo dos militares a passagem do poder para os civis e eleições presidenciais até julho deste ano.

No Iêmen, está no poder há mais de três décadas o presidente Ali Abdullah Saleh, que resiste em deixar o cargo. Após sofrer um ataque e ter parte do corpo incendiado, Saleh prometeu que iniciará um período de transição democrática. Mas, por enquanto, ainda é apenas uma promessa. Ele assumiu depois de um golpe militar com mandato presidencial de sete anos, mas a cada votação Saleh tem sido reeleito.

O Bahrein há 11 meses vive sob tensão devido aos embates entre manifestantes – xiitas e sunitas – e agentes de segurança do governo. Militares da Arábia Saudita e dos Emirados Árabes foram chamados para tentar manter a ordem no país, mas houve rejeição a eles. Sob liderança da  maioria xiita (cerca de 70% da população) que quer reformas políticas e sociais, os manifestantes se queixam da monarquia de Hamad Bin Isa Al Khalifa que representa o poder dos sunitas (os demais 30%).

Edição: Graça Adjuto