Investimento estrangeiro não deve cobrir déficit das transações correntes em janeiro

24/01/2012 - 15h10

Kelly Oliveira
Repórter da Agência Brasil

Brasília - O Banco Central (BC) espera que o déficit em transações correntes no primeiro mês do ano fique em US$ 6,7 bilhões. A conta de transações correntes registra as compras e vendas de mercadorias e pagamentos de serviços. O resultado de janeiro será influenciado fundamentalmente pela balança comercial (exportações e importações), que está na terceira semana consecutiva de saldo negativo este ano.

Se o déficit das transações correntes se confirmar em janeiro, a entrada de investimento estrangeiro direto, que vai para o setor produtivo da economia, não será suficiente para cobrir a diferença. Esse tipo de investimento acumula US$ 4 bilhões do início do ano até hoje (24) e deve fechar o mês em US$ 4,5 bilhões, de acordo com estimativa do BC.

Quando o país tem déficit em conta-corrente, ou seja, gasta além da renda do país, é preciso financiar esse resultado com investimentos estrangeiros ou tomar dinheiro emprestado no exterior.

Segundo o chefe do Departamento Econômico do Banco Central (BC), Tulio Maciel, historicamente, a tendência nas primeiras semanas do ano é a de ingresso moderado de investimento estrangeiro direto. Mesmo assim, ele espera "um resultado bom” este mês. Maciel acrescentou que as estatísticas do BC não mostram redução dos investimentos externos por causa da crise econômica mundial. Para ele, o Brasil sempre se destacou no cenário internacional pelas boas condições da economia, o que ajuda a atrair o capital estrangeiro.

No ano passado, o investimento estrangeiro direto (US$ 66,66 bilhões), considerado melhor forma de financiamento do que investimentos em ações, por exemplo, foi suficiente para financiar o déficit de US$ 52,612 bilhões. Para 2012, a previsão do BC é que o déficit em transações correntes fique em US$ 65 bilhões e o investimento estrangeiro direto alcance US$ 50 bilhões. Outra forma de financiamento para cobrir esse déficit são os investimentos em ações e títulos negociados no país, que devem registrar entrada líquida de US$ 12 bilhões e US$ 5 bilhões este ano, respectivamente, de acordo com previsão do BC.

Em 2011, um dos itens que influenciaram o saldo negativo foi a conta de serviços, com déficit de US$ 37,906 bilhões. A conta registra, entre outros itens, as despesas dos brasileiros no exterior. Mas, segundo Maciel, com a alta do dólar a partir de agosto, esses gastos ficaram mais moderados.

Outro item que contribuiu para o resultado das transações correntes foram as remessas de lucros e dividendos (US$ 38,166 bilhões), incluidas na conta de rendas (que registra também os pagamentos de juros e salários) com déficit de US$ 47,319 bilhões no ano passado. Essas remessas no ano passado foram as maiores da série histórica do BC, iniciada em 1947. Mas esse aumento das remessas não preocupa o BC. “Há lucratividade das empresas, a economia continua crescendo, portanto, é natural que essas remessas continuem crescendo”, disse Maciel.

O chefe do Departamento Econômico do BC disse ainda que são pontuais os movimentos de envio de recursos de filiais para matrizes no exterior por causa da crise econômica externa. “Não foram a tônica das remessas. Não foi isso que prevaleceu em 2011. O que prevaleceu em 2011 foi a remessa normal decorrente do aumento de estoque de investimento estrangeiro direto no país e do desempenho positivo da economia brasileira”.

Edição: Vinicius Doria